Em depoimento, Wanderson dá sua versão passo a passo do triplo homicídio à prisão
O caseiro Wanderson Mota Protacio, de 21 anos, preso na manhã deste sábado (4) pelo assassinato da esposa, da enteada e de um fazendeiro, afirmou à polícia que pretendia chegar em Goianápolis, a cerca de 60 quilômetros de onde se entregou, uma propriedade rural em Gameleira de Goiás. Ele estava atrás da ex-mulher e de um filho, a polícia acredita que em busca de apoio, uma vez que sua família mora em Minas Gerais e no Maranhão. De Corumbá, onde cometeu o crime no dia 28 de novembro, até Gameleira são mais de 135 quilômetros, que ele fez a maior parte a pé.
O delegado Cleiton Lobo, do Grupo de Repressão a Narcóticos (Genarc) de Anápolis, que participou do interrogatório de Wanderson após a prisão, conta que o caseiro afirmou ter entrado na propriedade de Cindra Mara, de 56 anos, para assalta-la, mas que foi convencido por ela a se entregar. Ela chegou a tirar uma foto com ele e mandar para o prefeito da cidade, Wilson Tavares (DEM), segundo ela para confirmar a identidade do suspeito, e depois foi com ele até um destacamento da Polícia Militar local.
No depoimento, segundo Cleinton, o suspeito não demonstrou arrependimento e contou passo a passo o que fez desde o momento da morte da mulher, Ranieri Aranha Figueiró, de 21 anos e grávida de 4 meses, da filha dela, Geysa Aranha da Silva Rocha, de 2 anos e 9 meses, e do produtor rural Roberto Clemente de Matos, de 73 anos, por volta das 15 horas do dia 28, até quando apareceu na casa de Cindra, às 6 horas deste sábado.
Wanderson conta que no dia do crime estava sob efeito de cocaína e que a mulher começou a brigar com ele por ciúmes de umas primas. Nervoso, ele quebrou um copo e ela pegou uma faca. Na briga, ela caiu no chão, bateu a cabeça, desmaiou, e ele aproveitou para pegar a faca e dar um golpe no pescoço dela, matando-a. De acordo com Cleiton, o caseiro contou que sabia da gravidez da esposa, tendo ido uma vez acompanha-la num exame de ultrassom.
Ele não soube explicar o que o motivou a matar a criança. Disse no interrogatório apenas que a menina viu tudo e que estava cego pelo nervosismo e pela droga quando decidiu pegar a mesma faca e atingi-la no peito.
Em seguida, ele foi até a casa do patrão, onde sabia que havia uma arma escondida, encontrou-a numa caixa de sapato ao lado da cama e foi até a casa do vizinho para roubar a camionete, já que o patrão estava sem carro. Na outra residência, pediu um refrigerante e deu voz de assalto. Ele conta que Roberto foi para cima dele, derrubando-o, quando então ele efetuou um disparo que atingiu a vítima no pescoço.
“Lá, conversou, falou que estava com sede e precisava de ajuda. O vizinho deu um refrigerante, e nesse momento ele [Wanderson] anunciou um roubo”, detalha o delegado. “Quando ele anunciou o roubo, segundo ele, as vítimas foram para cima dele, empurraram, ele caiu, e mesmo caído efetuou um disparo de baixo para cima no vizinho”, relata o delegado.
Ao ver o marido morto, a mulher dele, Cristina Nascimento Silva, de 45, tentou segura-lo, mas foi agredida com arranhões e ao fugir foi atingida por um disparo no ombro, caindo e fingindo-se de morta. Wanderson disse que acreditou que ela estava morta também, quando então foi até a camionete e fugiu.
Cleiton disse que a versão de que Cristina tentou agredi-lo e que ele a arranhou para se defender é uma tentativa de escapar da acusação de tentativa de estupro.
Na GO-225, Wanderson disse que desviou de um gato na estrada e caiu com a camionete numa vala na beira da pista, mas conseguiu uma carona até Alexânia, onde se encontrou com dois amigos e dormiu na casa dele. O POPULAR mostrou nesta semana que ele chegou a ir numa praça com os amigos, tomou cerveja na casa deles e vendeu a um deles por R$ 200 o celular que roubou de Cristina.
No dia seguinte, o caseiro disse que foi até a rodoviária por volta de 7h30 e comprou uma passagem para Goianápolis, mas como a partida era só às 9 horas, ele preferiu pegar um táxi até Abadiânia e de lá seguir pela zona rural até a cidade onde estava a ex-mulher. Wanderson contou que não quis ir adiante com o táxi por temer passar com o carro por alguma barreira policial na BR-153. De Abadiânia até Gameleira, onde ele se entregou, são cerca de 40 quilômetros.
De segunda à sábado, Wanderson conta que só teve contato com três trabalhadores rurais em uma estufa de uma fazenda em Gameleira, a cerca de 4 quilômetros da propriedade de Cindra, e depois com ela. Não falou com mais ninguém, o que segundo a polícia desmente todos os testemunhos feitos por pessoas que disseram ter visto ele ou até mesmo dado carona. A imprensa chegou a noticiar a informação de uma suposta troca de tiros com o dono de uma fazenda, o que Wanderson nega ter havido.
O caseiro disse ficou todo esse tempo andando a pé na mata, se escondendo da polícia e se alimentando com três pacotes de bolacha que comprou na rodoviária de Alexânia. Afirmou também que ficava com o celular desligado a maior parte do tempo, o que explica o aparelho ainda estar com um pouco de bateria quando ele se entregou. “Ele disse que ligava só para ver as horas.”
Antes de se entregar, entretanto, ele teria entrado na propriedade de Cindra para rouba-la. Estava com muita fome e sede, com frio e sem dinheiro. Ele aproveitou que a vítima estava sozinha e apontou a arma para ela pela janela. Porém, a mulher conseguiu manter a calma e buscou dialogar com ele, oferecendo comida e roupa limpa. O agasalho que aparece com Wanderson nas imagens da imprensa na hora da prisão é dela.
Cindra Mara contou à polícia e à imprensa que quando viu Wanderson armado manteve a calma e pediu o mesmo para o caseiro. O marido dela havia saído minutos antes para tirar leite das vacas. Ela conversou com Wanderson, o convenceu a se entregar, ofereceu café, bolacha e um agasalho e chamou o marido. O casal então foi com ele até um carro, momento em que o caseiro deixou a arma no porta-luvas.
“A mulher, conversando com ele, deu acolhida, ele mudou de ideia e resolveu se entregar”, contou o delegado. Ainda segundo Cleiton, o caseiro foi meticuloso em suas ações. “Ele sabia muito bem o que estava fazendo. Essa alegação de droga é só para justificar os atos. Ele é bem tranquilo e muito frio.”
A versão dada por Wanderson, de que ele foi até a casa de Cindra para rouba-la, vai contra o que defendeu o titular da Secretaria de Segurança Pública (SSP), Rodney Miranda, na coletiva à imprensa sobre a prisão do caseiro. Para Rodney, o rapaz foi até a casa para se entregar por cansaço e por não aguentar mais tentar escapar do cerco policial montado contra ele.
O secretário contou que na noite anterior equipes policiais estiveram na propriedade vizinha a de Cindra, onde Wanderson foi visto pela última vez, e os agentes só não entraram na mata ao lado porque começou a chover forte e já era muito tarde. Eles cogitaram o uso de cães farejadores, mas desistiram. Segundo Rodney, as chances de prisão hoje caso ele não se entregasse seriam grandes, devido ao cerco feito e ao estado de Wanderson.
Na coletiva, Rodney chamou de imprudente a decisão de Cindra de tirar a foto com o suspeito, mas a agradeceu pela coragem e pelo sucesso em manter o suspeito calmo e decidido a se entregar. “Ela prestou um grande benefício para a sociedade e nós temos que agradecer.” Cindra também justificou a atitude da foto, dizendo que havia muitas informações contradizentes circulando e que fez isso para mandar para o prefeito e ter certeza com quem estava lidando.
“Muitas pessoas estavam passando informac?o?es desencontradas para a poli?cia. Ai? eu disse, voce? quer se entregar? Ele falou, quero. Ai? eu falei: voce? me deixa tirar uma foto sua? E ele: deixo. Quando eu tirei a foto dele, tive o discernimento de mandar para o prefeito, que encaminhou para um policial. Mas eu vou dizer uma coisa: Foi Deus”, afirmou ela aos jornalistas.
No interrogatório, Wanderson confessou o triplo homicídio e outros crimes pelos quais já responde ou era investigado, como a morte de um taxista durante um assalto, em Minas, e o assassinato de uma pessoa no Maranhão.
Para o delegado que o interrogou, caso Wanderson naõ se entregasse, seria uma questão de horas para ele ser preso. Cleiton conta que a polícia estava monitorando todos os possíveis contatos do caseiro, sabia que ele procurava a ex-mulher em Goianápolis, apesar de negar que ele tivesse contatado ela durante a fuga. “Fizemos um trabalho operacional, que é este de campo, mas concomitantemente fizemos um trabalho de oitivas, de interrogatórios, ele não tinha escolha, porque o local onde ele estava era pequeno, a polícia ia chegar nele. Então não restaria alternativa a não ser se entregar.”
O Popular