O mercado internacional da soja opera em campo positivo na sessão desta terça-feira (19) na Bolsa de Chicago. Os futuros da oleaginosa iniciam hoje a semana, após o feriado de Martin Luther King comemorado nesta segunda-feira (18) nos EUA, com altas entre 5,50 e 7 pontos, levando o contrato julho/16 aos US$ 8,90 por bushel.
Assim, as cotações registram suas máximas desde o último dia 23 de dezembro, segundo informa a Reuters internacional na manhã de hoje. E além das especulações em cima do mercado financeiro global – principalmente em relação aos últimos números da China – as chuvas que chegam ao Brasil também passam a ganhar mais espaço no radar dos traders.
Se antes as preocupações eram com as perdas causadas pela seca, o foco agora se volta para o excesso de umidade já comprometendo o desenvolvimento dos trabalhos de colheita em uma série de estados produtores. Além disso, as precipitações já têm favorecido o aparecimento de doenças típicas desse condições climáticas como essa, como o caso da ferrugem asiática.
Previsão do Tempo
Para esta semana mais chuvas são previstas para o Centro-Norte do país. Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, os acumulados, em determinados pontos, podem passar de 100 mm nos período de 19 a 23 de janeiro. No Mato Grosso do Sul e região Sul, por outro lado, o tempo deve ser de sol e calor. Porém, essas condições no estado gaúcho preocupam, uma vez que muitas áreas de soja estão na fase de floração e enchimento de grãos, precisando de água.
“Nesta semana um sistema meteorológico chamado de “Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)” será responsável por chuva frequente e volumosa em grande parte do país. Este sistema caracteriza-se por uma extensa faixa de nebulosidade que se estende desde o Atlântico até o sul da Região Norte, passando sobre parte do Sudeste e do Centro-Oeste. Grandes áreas de instabilidade também vão atuar no interior do Nordeste e vão provocar chuvas intensas”, informou a Climatempo em seu boletim semanal.
Soja: Descolados da CBOT, preços superam paridade de exportação em praças do interior do Brasil
Os preços da soja registram um bom momento neste início de ano no Brasil. As exportações de 2015 foram bastante positivas, bem como o consumo interno, o que fez com que 2016 começasse com baixos estoques, uma demanda ainda forte e uma taxa de câmbio favorável. Nos principais portos de exportação, as cotações do produto disponível superam há alguns dias os R$ 80,00 e, nesta segunda-feira (18), chegou, ao longo do dia, a registrar uma referência de R$ 86,00 por saca, com alta de 0,94% em relação ao fechamento da última sexta-feira (15). Já o mercado a futuro tinha como referência os mesmos R$ 82,50.
Em alguns casos, os valores praticados no interior do país chegam até mesmo a ser mais competitivos do que patamares da exportação. “Para o produto pronto, os preços no interior estão acima da paridade. Já para a disponibilização na próxima semana, por exemplo, os preços caem entre R$ 1,00 e R$ 2,00”, explica Camilo Motter, analista de mercado e economista da Granoeste Corretora de Cereais.
Nesta segunda, o mercado brasileiro trabalhou sem a referência da Bolsa de Chicago, que não operou em decorrência do feriado de Martin Luther King nos EUA, deixando o mercado ainda mais travado. Ainda assim, porém, os valores continuaram mostrando alguma sustentação. Afinal, já é possível constatar o descolamento do mercado nacional do internacional.
“Temos um estoque de passagem no Brasil, em 31 de dezembro do ano passado, de apenas 127 mil toneladas de soja. Com uma produção de 97 milhões, um consumo doméstico de 40,4 milhões, 3 milhões para semente e exportações de 54 milhões, teríamos um estoque negativo, em torno de 400 mil toneladas”, explica Marcos Araújo, analista da Agrinvest Commodities.
Além disso, as vendas antecipadas da soja da safra 2015/16 foram bastante elevadas, o que traz ainda mais preocupação e, por parte dos produtores, cautela. As perdas registradas nesta temporada ainda estão sendo contabilizadas, a produtividade é incerta e faz que os produtores busquem não se comprometer com novos negócios. O quadro, portanto, que já começa a sentir ainda um atraso na colheita agora por conta do excesso de chuvas, já começa a gerar uma disputa tanto pela pouquíssima oferta da safra 2014/15, quanto pela atrasada soja da 2015/16.
Ao lado dessa ajustada relação oferta x demanda e do dólar ainda acima dos R$ 4,00 servindo como boa referência para as cotações, os prêmios positivos, e com tendência de se fortalecerem ainda mais, completam o forte tripé de formação das cotações da soja brasileira neste momento.
“Eu acredito em um fortalecimento dos basis (prêmios), que já vem acontecendo. Hoje, os valores para as posições abril e maio têm de 20 a 25 cents de dólar acima dos valores de Chicago. E a partir do segundo semestre, isso deve acontecer mais intensamente”, explica o analista da Agrinvest.
Segundo dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior, também nesta segunda, as exportações brasileiras de soja nos primeiros 10 dias úteis de janeiro já somam 137,1 mil toneladas. O volume registrado no mesmo período de 2015 foi de 85,3 mil toneladas. Em receita, o total gerado nestas duas primeiras semanas é de R$ 50,3 milhões, contra R$ 35,1 milhões o mesmo intervalo do ano passado.
Comercialização e Preços no Interior
Um levantamento feito pela consultoria Safras & Mercado aponta que, até o último dia 8 de janeiro, o índice de comercialização da safra 2015/16 de soja do Brasil estava em 49%. E até o momento, o índice não apresenta grandes alterações, uma vez que o mercado segue travado em praticamente todas as regiões produtoras. E o estado mais adiantado é Goiás, com 62%, seguido por Mato Grosso, com 56%, Minas Gerais com 49%, Mato Grosso do Sul com 44%, Paraná com 43% e Rio Grande do Sul com 43%, entre os principais produtores, como mostra a ilustração abaixo.
Assim, ainda nesta segunda-feira, o oeste do Paraná registrou alguns pequenos negócios, com os valores entre R$ 77,00 e R$ 78,00 por saca. “Apenas uma ou outra empresa que realmente precisa do produto imediato está no mercado”, diz Motter.
Já no Rio Grande do Sul, na região de Carazinho, os preços para a soja depositada nas cerealistas chegam a R$ 77,00, segundo relata o vice-presidente do Sindicato Rural do município, Paulo Vargas. Já a soja disponível registrava valores na casa dos R$ 82,50 por saca. “Há pouca soja na mão do produtor. Novas vendas agora estão paradas”, diz.
Não chove há mais de uma semana na região e as lavouras estão na fase onde a presença da água é mais importante, que é a de floração e enchimento de grãos.
Em Mato Grosso, na região de Sorriso, os preços também são favoráveis e atrativos, mas os produtores seguem retraídos. A soja disponível chegou a bater nos R$ 70,00, como explica o presidente do Sindicato Rural local, Laércio Pedro Lenz, e para o produto da nova safra a média de preços tem sido de R$ 55,00 a R$ 58,00 por saca.
O município, que é o maior produtor de soja do Brasil, já negociou cerca de 55% a 60% de sua safra antecipadamente, com a projeção de um rendimento de algo entre 56 e 58 sacas por hectare. No entanto, caso essa produtividade caia, o índice de comercialização sobe para os 70%. “O produtor evita se arriscar mais nesse momento”, diz Lenz.
A preocupação maior do produtor brasileiro neste momento ainda é o clima. Há uma mudança significativa no padrão climático neste início de 2016, porém, não são só benefícios que vêm sendo registrados. “Até meados de dezembro, eram o calor e a baixa umidade que preocupavam produtores do Cerrado brasileiro; agora, são as chuvas intensas que deixam agentes em alerta. Segundo pesquisadores do Cepea, em Mato Grosso e no Paraná, várias regiões estão iniciando a colheita e o excesso de chuvas pode atrasar os trabalhos, além de prejudicar a qualidade do grão. Já nas praças em que as lavouras ainda estão em fase de desenvolvimento, as chuvas são benéficas e podem, inclusive, favorecer recuperação da produtividade”, informou o Cepea, em nota, nesta segunda-feira.