Reduzir a emissão de gás carbônico para a atmosfera é algo falado há anos e conforme eles passam, torna-se mais urgente tomar medidas que efetivamente transformem isso em realidade. Pioneiro em tantas questões agropecuárias, Mato Grosso do Sul também é protagonista quando se fala em pecuária sustentável e preocupada com o meio ambiente.
É daqui de MS, a primeira propriedade rural do Brasil certificada com o selo Carne Carbono Neutro, cuja sigla é CCN. Registrada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a tecnologia que permite a queda na emissão de gases do efeito estufa é simples e foi abraçada pelo Governo do Estado, que tem compromisso de tornar-se Estado Carbono Neutro até 2030.
O pesquisador da Embrapa Gado de Corte, David Burgenstab, afirma que há pelo menos 20 anos, estuda-se uma forma de reduzir a emissão de gases pela produção pecuária. Foi com a consolidação da ideia de integração de culturas que isso foi possível, com a ILPF (Integração lavoura, pecuária, floresta).
Mato Grosso do Sul tem a característica de ser protagonista, foi na mineralização do rebanho em relação à suplementação animal, no uso do semiconfinamento, no novilho precoce (que reduz o período de abate) e agora, com a Carne Carbono Neutro, também de ambiental”, sinaliza.
Ele explica que entre os benefícios da criação na modalidade CCN, estão a preservação dos recursos naturais, porque precisa estar estruturado nas exigências legais de conservação da água e do solo e também compensa as emissões de gases de efeito estufa, com o combate ao aquecimento global.
A criação nessa modalidade “fixa o carbono nas árvores, além do que os animais emitem. Na pior das hipóteses, ela anula a emissão”, explica. Isso ocorre porque num mesmo espaço há produção de árvores (floresta plantada para celulose, por exemplo), lavoura e a pecuária, com todo um ecossistema gerador de benefícios a plantas e animais.
Bem-estar animal – O próximo passo de certificação é o de bem-estar animal, que segundo Burgenstab, que é médico veterinário de formação e doutor em Ciências Agrárias, vai elevar a criação de gado a um novo patamar.
“Nesse sistema, não falta alimento para o animal. No sistema tradicional, eles sofrem com a estiagem, mas nesse não, ele não passa fome. Tem ainda o cuidado com a infraestrutura, porque há uma variação de sombras, calor e fio melhor distribuídas. Já está provado que o microclima nessas condições é muito mais interessante”, sustenta.
Na forma de criação CCN, também é possível formar um corredor ecológico, que protege a fauna local e ainda combater a erosão do solo.
O selo de Carne Carbono Neutro foi lançado em MS em agosto do ano passado e integra ações do Governo do Estado, Embrapa, o frigorífico Marfrig com a marca “Viva”. A propriedade onde o rebanho é criado é a Santa Vergínia Agro, em Santa Rita do Pardo, que fornece a carne para o frigorífico.
Lá, dos 10 mil hectares de integração, 1 mil fazem parte do protocolo CCN. Segundo um estudo da Embrapa Gado de Corte, 200 árvores por hectare seriam suficientes para neutralizar o metano emitido por 11 bovinos adultos por hectare ao ano.
Estado carbono neutro – Além da CCN através da integração lavoura, pecuária e floresta, MS ainda conta com outras ações que visam credenciá-lo como Estado de baixa emissão de gases do efeito estufa. Na área agropecuária, há o plantio direto na palha; uso de biodigestores; criação de gado a pasto; recuperação de pastagens e o plantio de florestas para fixação biológica de nitrogênio no solo e a soja baixo carbono, que visa a fixação biológica de nitrogênio no grão.
Há ainda a conclusão da análise do CAR (Cadastro Ambiental Rural) em adequação ao Código Florestal; a conservação do solo e da água, com o Programa de Conservação de Solo e Água, em Bonito e região; o PSA (Pagamento de Serviços Ambientais) e também medidas para se atingir um desmatamento Ilegal Zero.
No setor de Energia Renovável também há iniciativas, como a meta é ampliar a base de usinas já existentes que utilizam como matriz a biomassa de Eucalipto, a biomassa de Cana de Açúcar e o Biogás, o Ilumina Pantanal leva energia elétrica via painéis solares a comunidades afastadas da maior planície alagada do mundo.
Por fim, para as regiões urbanas, o Governo do Estado lançou a PPP (Parceria-Público-Privada) do Saneamento Básico, que contempla os 79 municípios sul-mato-grossenses e se integra ao PERS (Plano Estadual de Resíduos Sólidos).
Por Lucia Morel campograndenews