Nova baixa para as cotações da soja na Bolsa de Chicago nesta sexta-feira (15). Os futuros da oleaginosa devolviam os ganhos registrados no pregão anterior e, por volta das 7h30 (horário de Brasília), recuavam entre 1,50 a 5,50 pontos nos principais vencimentos. Ainda assim, o maio/16, referência para a safra do Brasil, operava acima de US$ 8,80 por bushel.
O mercado internacional, como explicam analistas, espera por novidades consistentes para poder se posicionar. Para Camilo Motter, os preços caminham até mesmo para recuperar os US$ 9,00 por bushel, o que poderia ser alcançado, entre outros fatores, pelo atraso da colheita na Brasil estimulando a demanda pela soja norte-americana.
Por hora, o mercado segue acompanhando a conclusão da temporada 2015/16 brasileira, e sulamericana de uma forma geral, os últimos números atualizados da safra brasileira, as compras da China – que apresentaram bons dados nesta semana, e disputa por área entre soja e milho que se inicia nos EUA.
Paralelamente, o mercado financeiro, em dias de muito nervosismo e a crise nos preços do petróleo também exercem influência sobre as cotações.
Veja como fechou o mercado nesta quinta-feira:
Soja: Preços fecham o dia sem direção comum nos portos do Brasil, mas ainda acima dos R$ 80
Na sessão desta quinta-feira (14) na Bolsa de Chicago os futuros da soja registraram mais um dia de estabilidade e encerraram os negócios em campo misto. Enquanto o contrato janeiro/16, que já sai da tela nesta sexta-feira (15), caiu 2,75 pontos, as demais posições voltaram a subir e terminaram com pequenas alta de 1,25 a 3 pontos. Dessa forma, o maio/16, que serve de referência para a safra brasileira, encerrou o pregão cotado a US$ 8,83 por bushel.
Com um mercado internacional ainda fraco e sem trazer referências fortes para a formação dos preços no Brasil, os preços da soja praticados nos portos do país também concluíram seus negócios sem assumir uma direção comum. Enquanto a oleaginosa disponível fechou, em Paranaguá, com queda de 1,18% para R$ 84,00, subiu 0,59% em Rio Grande, para encerrar valendo R$ 85,50. Ao longo do dia, porém, o preço bateu nos R$ 85,80. Já para o mercado a futuro, queda de 2,47% para R$ 79,00 no terminal do Paraná e ganho de 1,85% para R$ 82,50 no do Rio Grande do Sul.
Ao lado das negociações “fracas” em Chicago, afinal, o dólar também registrou uma sessão de volatilidade e fechou no vermelho. A moeda norte-americana chegou a avançar nesta quinta-feira e a superar, novamente, os R$ 4,00, mas perdeu o fôlego e fechou com baixa de 0,31% em R$ 3,9983 na venda.
Segundo especialistas, o dia, apesar dessa direção indefinida, foi morno e o sentimento de um pouco mais de apetite pelo risco acabou ganhando espaço entre os traders. “Foi um dia morno e acabou prevalecendo o tom positivo. O mercado está um pouco de lado nos primeiros dias do ano, influenciado principalmente por questões internacionais”, resumiu o superintendente de derivativos de uma gestora de recursos nacional em entrevista à agência de notícias Reuters.
Mercado Brasileiro
E apesar desses preços atrativos, o mercado brasileiro de soja ainda se mostra bastante travado neste início de ano, segundo relata Camilo Motter, analista de mercado e economista ds Granoeste Corretora de Cereais.
“Isto se justifica pela baixa oferta de soja disponível e bons volumes de vendas antecipadas. É momento de augardar e observar”, diz. “Mas isto é normal. A virada do ano trouxe mudanças radicais também no mercado do milho. Então o produtor deu uma certa recuada para analisar o quadro”, completa.
A demanda pela soja do Brasil ainda se mantém muito forte, principalmente porque, nesse momento, a taxa cambial a torna ainda mais atrativa para os importadores, o que faz com que haja uma disputa, neste momento de entressafra, pelo pouco grão ainda a ser comercializado. Em 2015, o país encerrou o ano com exportações recordes no complexo soja, com 54,3 milhões de toneladas somente no grão.
Reflexo disso já são preços mais altos não só nos portos, mas nas praças de comercialização do interior do Brasil. Em praças do estado de Goiás, por exemplo, os valores chegaram ao patamar dos R$ 70,00 por saca e, em alguns caso, chegam a superá-lo.
Bolsa de Chicago
Ainda segundo Motter, na Bolsa de Chicago os traders também aguardam por novidades consistentes que possam renovar o fôlego dos negócios. Por enquanto, apesar do relatório altista do USDA que chegou na última terça-feira (12), o mercado, portanto, ainda se comporta de forma técnica, caminhando de lado.
Entre os fundamentos, além dos dados do departamento norte-americano, segue no radar dos traders o acompanhamento da nova safra do Brasil. As chuvas continuam a chegar nas principais regiões produtoras e seus efeitos são opostos.
“Acho que investidores estão aguardando uma melhor definição da safra sul-americana. Sazonalmente, fevereiro e março são meses de pressão em razão da chegada da safra da América do Sul ao mercado. De qualquer maneira, os fundos seguem vendidos e estão dispostos a voltar às compras diante de notícias de quebra no Sul (do Brasil)”, explica o analista da Granoeste.
Porém, Motter afirma ainda que o mercado poderia enxergar como um gatilho positivo um possível atraso na chegada da nova soja sul-americana ao mercado internacional, o que poderia provocar uma busca maior pelo produto norte-americana que, neste momento, está mais “fraca”.
Ainda nesta quinta-feira, chegaram as atualizações sobre as vendas para exportação dos Estados Unidos com números fortes, porém, dentro do esperado, o que, consequentemente, tiveram um efeito limitado sobre as cotações. No acumulado da temporada comercial 2015/16 as vendas dos EUA já somam 40.121,0 milhões de toneladas, volume 11% menor do que o registrado no mesmo período da campanha anterior.
Na semana encerrada em 7 de janeiro, as vendas semanais de soja dos Estados Unidos somaram 1.127,5 milhão de toneladas. Desse total, 1.127,4 milhão foram da safra 2015/16, contra 638,7 mil da semana anterior e dentro das expectativas, que variavam de 900 mil a 1,3 milhão de toneladas. A China e foi o principal destino da soja norte-americana.
Entretanto, analisando o quadro global, a demanda por soja segue forte, presente e dando sinais de crescimento. “Até acredito que os EUA vão vender um pouco menos neste ano, mas o fato é que os chineses vão importar mais”, explica Motter. “Nos dois últimos anos tivemos aumentos significativos dos estoques, com aumento da oferta de 19%, em dois anos, e o consumo na faixa de 9%. Este ano começa com uma certa inversão, com consumo maior do que a produção. Obviamente, os estoques ainda são altos e grandes, sobretudo para os EUA”, diz o analista, e ainda merecem atenção, portanto.