Caixa reduz juros para financiamento imobiliário

Na contramão da maioria dos bancos, a Caixa Econômica Federal anunciou, nesta quinta-feira, uma redução nos juros de uma modalidade de financiamento habitacional, a que é atrelada à poupança.

A taxa, que está em 3,95% ao ano mais o rendimento da caderneta de poupança, vai cair 0,4 ponto percentual, para 2,95% ao ano.

A medida entra em vigor em 18 de outubro. O corte no crédito imobiliário já tinha sido antecipado pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, no início da semana, mas ficou restrita a somente uma das modalidades de financiamento que o banco estatal oferece, que é a de menor risco para o banco.

A redução dos juros vai na contramão do movimento de outros bancos, que recentemente começaram a elevar suas taxas em meio às mais recentes altas da Selic, a taxa básica do país.

Santander, BB e Itaú elevaram taxas

Santander e Banco do Brasil informaram recentemente uma elevação de suas linhas tradicionais de crédito imobiliário.

No primeiro, a taxa anual do crédito imobiliário tradicional, que começava em 7,99% mais Taxa Referencial (TR, zerada desde 2017), agora tem como menor patamar 8,99% mais TR. No segundo, foi de a partir de 6,39% para 6,85% mais TR.

O Itaú também elevou a taxa da sua modalidade tradicional de financiamento da casa própria de 7,3% para 8,3% mais TR, mas também decidiu reduzir juros iniciais na modalidade ligada à poupança, de 3,45% para 2,99% ao ano.

Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne para decidir sobre a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 5,25%. A autoridade Monetária já sinalizou que deve subir a taxa em 1 ponto percentual. Esse movimento deverá levar a novos reajustes das taxas do crédito imobiliário.

Guimarães respondeu as críticas sobre o corte de juros enquanto a Selic está subindo.  Ele disse que o banco tem em carteira mais de R$ 200 bilhões em títulos públicos, que remuneram a Selic.

— Logo, quanto maior a Selic, maior o meu ganho. Por causa disso, nós vamos reduzir o spread (diferença entre o custo de captação e o cobrado do tomador na ponta), especificamente na linha de poupança — disse Guimarães, acrescentando:

— Ninguém aqui vai querer dar canetada até porque os executivos da Caixa são muito bons.

O presidente do conselho da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Rubens Menin, disse que o corte de juros na linha de financiamento corrigida poupança é uma sinalização para o mercado, no momento em que outros bancos estão subindo as taxas

— Essa queda na taxa da modalidade da poupança vai ajudar a segurar. É uma sinalização importante para o mercado. A economia vive de otimismo, de mensagens positivas — disse o executivo, após participar do evento da Caixa.

Nada muda nos outros tipos de financiamento

A Caixa manteve inalterados os juros cobrados na linha tradicional, indexada à TR (Taxa Referencial), e nas modalidades corrigidas pela inflação e com juros fixos, diante da alta na básica de juros (Selic) e no índice de preços.

Líder do mercado, a Caixa oferece financiamento habitacional com prazo de até 35 anos, além de carência de seis meses para o pagamento da primeira parcela.

O banco também financia 100% do valor do imóvel retomado em caso de inadimplência do mutuário.

No alvo, Guimarães defende sua gestão

Guimarães, que sempre faz um esforço para ser didático em entrevistas, fala em cerimônia para marcar 100 milhões de contas do app Caixa Tem, que centraliza auxílio emergencial. Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Guimarães, que sempre faz um esforço para ser didático em entrevistas, fala em cerimônia para marcar 100 milhões de contas do app Caixa Tem, que centraliza auxílio emergencial. Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Em meio a críticas e uma investigação do Ministério Público sobre a pressão a executivos e empresários que teria causado um imbróglio na Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Guimarães aproveitou o anúncio da medida para fazer um balanço do crédito imobiliário na sua gestão.

Guimarães teria provocado a ameaça da Caixa e do Banco do Brasil de se desfiliarem da Febraban caso a entidade aderisse a um manifesto em defesa da democracia e da separação dos Três Poderes lidarado pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp)

 

A carteira habitacional atingiu R$ 534,6 bilhões, cerca de 5,8 milhões de contratos – o que representa um crescimento de 20,4% em comparação a 2018. Em agosto, o volume contratado com novas operações alcançou R$ 14 bilhões, sendo R$ 9 bilhões com recursos da poupança.

Nos últimos três anos, foram iniciados mais de 6 mil novos canteiros de obra, movimentando o setor da construção civil e gerando mais de 2,1 milhões de empregos diretos e indiretos, segundo a Caixa.

 

 

 

Fonte: Geralda Doca e Gabriel Shinohara – O Globo