O Jornal da Globo teve acesso a um dos depoimentos da delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras. Ele fala de propina, extraída da estatal, para os senadores Fernando Collor de Melo, Delcídio do Amaral e Renan Calheiros.
O depoimento prestado no dia 7 de dezembro trata da indicação de Cerveró para a BR Distribuidora e de outros assuntos. Cerveró afirma que, em 2008, foi exonerado da diretoria internacional da Petrobras.
Da diretoria internacional, Nestor Cerveró foi para a diretoria financeira e de serviços da BR Distribuidora. O novo cargo, segundo ele, teria sido uma recompensa já que Cerveró havia atuado na contrataçao da empresa Schahin para operar o navio sonda Vitória 10 mil, da Petrobras.
A contratação da Schahin tinha como objetivo, segundo Cerveró, a quitação de um empréstimo do PT com o banco do mesmo grupo. O empréstimo está sendo investigado na Lava Jato e levou à prisão José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula. Bumlai teria dado garantias para que o negócio fosse realizado.
Na delação, Cerveró afirmou que, como reconhecimento pela ajuda nessa transação, o presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva decidiu indicá-lo para a diretoria financeira e de serviços da BR Distribuidora.
Em outro trecho da delação, Nestor Cerveró afirma que o presidente Lula havia concedido influência política na BR Distribuidora ao senador Fernando Collor de Mello, do PTB de Alagoas, e que as diretorias da BR Distribuidora foram divididas entre PT, PMDB e PTB.
O depoimento de Cerveró também detalha reuniões, entre 2010 e 2013, para distribuição de tarefas dentro da BR Distribuidora. Dos encontros participavam vários políticos e representantes, segundo Cerveró
Em um destes encontros ficou decidido que, por meio da diretoria que ocupava, Nestor Cerveró arrecadaria propina para os senadores Delcídio do Amaral, suspenso do PT, e Renan Calheiros, do PMDB, e atenderia solicitações de Fernando Collor e do deputado Cândido Vacarezza, do PT de São Paulo.
Cerveró afirma, inclusive, que em 2012, foi chamado ao gabinete de Renan Calheiros, que teria reclamado da falta de repasses de propina. Cerveró disse ter explicado que não estava arrecadando propina na BR Distribuidora e Renan Calheiros teria ameaçado retirar o apoio político que ajudava a manter Cerveró no cargo.
Também vieram à tona na segunda-feira (11) outros detalhes sobre as revelações de Nestor Cerveró. Em um resumo que entregou aos procuradores da República antes mesmo de fechar o acordo de delação, ele colocou sob suspeita um negócio realizado pela Petrobras na Argentina.
Em 2002, a Petrobras comprou a Pérez Companc, uma companhia do setor de petróleo e energia da Argentina. Cerveró afirmou que o negócio envolveu uma propina de US$ 100 milhões ao governo Fernando Henrique Cardoso, mas o delator não informou quem pagou a propina e quem, no governo, teria recebido o dinheiro.
Nestor Cerveró disse que soube da propina por diretores da Pérez Companc na época em que o negócio foi fechado. Os diretores da petrolífera argentina, segundo ele, receberam, cada um, US$ 1 milhão pelo negócio.
Sobre a compra da empresa argentina, o ex-presidente Fernando Henrique cCardoso declarou que afirmações vagas, sem especificar pessoas envolvidas, servem apenas para confundir e não trazem elementos que permitam verificação.
A Petrobras não vai comentar.
O Jornal da Globo não conseguiu contato com a empresa Pérez Companc.
Sobre as acusações de Cerveró a respeito da BR Distribuidora, o Instituto Lula disse que não comenta vazamentos ilegais, seletivos e parciais de supostas alegações que alimentam um mercado de delações sem provas em troca de benefícios penais.
O PMDB não vai comentar.
O Jornal da Globo não conseguiu contato com o PT e o PTB. A BR Distribuidora e o grupo Schahin também não foram encontrados para comentar assim como senadores Fernando Collor e Renan Calheiros e o deputado Cândido Vaccarezza.
Também não conseguimos contato com as defesas de Delcídio do Amaral e José Carlos Bumlai. Delcídio e Bumlai estão presos.
Fonte: Jornal da Globo