Leilão para concessão de trecho da BR-163 terá participação de grupo liderado pelo empresário Eraí Maggi
O uso de pesticidas no Cerrado de Mato Grosso do Sul tem preocupado cientistas da fauna regional. De acordo com uma pesquisa publicada no final de junho, deste ano, na revista Wildlife Researchantas, antas brasileiras estão morrendo e sendo afetadas por agrotóxicos utilizados em propriedades agrícolas que ficam no bioma.
O documento assinado por cientista
O início do mesmo de julho promete ser agitado em dois setores da cadeia produtiva do Estado, o agronegócio e da logística estarão acompanhando de perto o leilão de concessão da BR 163 até o porto de Miritituba-PA. Isso porque, os primos Erai e Blairo Maggi devem fazer uma proposta para trecho de 1 mil km de BR-163, entre Sinop, a 503 km de Cuiabá, e Itaituba, no Pará, agendado para o dia 8 de julho e será realizado na bolsa de valores de São Paulo.
A principio do Governo Federal estava pessimista com o interesse de grupos e empresas para o leilão, por conta do curto prazo de concessão de 10 anos e prorrogável por mais 2 anos, e baixo volume de investimentos previstos. Mas segundo, a Agência iNFRA informou, o ex-ministro e ex-governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, dono da Amaggi, e seu primo Eraí, mandatário do Grupo Bom Futuro, duas gigantes tradings de comercialização de grãos do país, fizeram uma viajem pela rodovia e estão preparando uma proposta para administrá-la. A Amaggi está associada ao empresário Guilherme Quintella, da EDLP (Estação da Luz Participações), idealizador da Ferrogrão, e o fundo de investimentos Vinci Partners.
De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a empresa vencedora do leilão ficará responsável pela infraestrutura e prestação do serviço de recuperação, conservação, manutenção, operação, implantação de melhorias e ampliação de capacidade da BR-163.
Estão previstos investimentos em R$ 3 bilhões, sendo R$ 1,2 bilhão destinados a custos operacionais e o restante para demais investimentos na rodovia.
s da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (INCAB-IPÊ), além de apontar a contaminação da espécie, pede investigações mais profundas sobre o tema, em decorrência do uso dos pesticidas irregulares.
A pesquisa conclusiva traz um relatório detalhado da detecção de pesticidas e metais pesados analisados nas antas. Uma das principais conclusões foi a detecção da alta prevalência do agrotóxico, popularmente conhecido como ‘chumbinho’, presente de forma intensa no conteúdo estomacal dos animais. De todas as antas avaliadas, 41% delas testaram positivo para este ou mais produtos químicos.
O estudo de campo foi feito entre os anos de 2015 e 2017, nas cidades de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina, municípios próximos a Campo Grande. Conforme os dados levantados pela pesquisa, esta região contém plantações de cana-de-açúcar, cultura que utiliza da pulverização aérea de inseticidas, agrotóxicos encontrados nos organismos das antas analisadas.
Em 2012, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento decidiram retirar do mercado brasileiro o agrotóxico aldicarbe, pesticida encontrado nos animais. Diante da presença dos pesticidas, após 2012, o estudo deixa claro que agricultores estão utilizando o produto irregular.
A coordenadora da INCAB e uma das autoras do artigo, Patrícia Medici, alerta para os riscos da contaminação das antas. “Esse é um estudo de longo prazo e conseguimos apontar agora com ampla certeza quais os agrotóxicos que estão afetando a saúde das antas. Embora pouco se saiba sobre o impacto da exposição crônica a estas substâncias ao longo de meses ou anos, já sabemos que o índice de pesticidas encontrado nos tecidos, outros órgãos e sangue dos animais é muito superior ao limite permitido de ingestão. Isso pode desencadear processos fisiológicos com implicações importantes para a saúde dos animais afetados, particularmente nas respostas endócrinas, neurológicas e reprodutivas”, afirma.
Agrotóxicos no habitat natural
Pesquisadores estão preocupados com a vida das antas brasileiras. — Foto: INCAB/Divulgação
Os especialistas explicam que as exposições das antas aos agrotóxicos são feitas no próprio habitat natural, seja pela ingestão de plantas em contato com o solo ou água contaminada. “A análise estomacal demonstra exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar”, descrevem.
“Isso é assustador e prejudicial e não sabemos ainda os efeitos colaterais para esses bichos. É como se as antas se alimentassem de veneno um pouco a cada dia, alimentando uma bomba-relógio em seu próprio corpo. Essa falta de conhecimento sobre a saúde da anta é um grande obstáculo para um planejamento adequado ações de conservação”, alerta Patrícia.
Além do “chumbinho”, outros pesticidas foram encontrados como organofosforados – diazinon, malathion e mevinphos também foram encontrados nas patas dos animais. A pesquisadora explica que as substâncias podem tornar as antas mais vulneráveis a infecções e doenças, afetando adversamente sua saúde e sobrevivência.
“Já está claro que a agricultura em grande escala no Cerrado brasileiro está resultando em pesticidas e exposição a metais em concentrações que excedem a segurança ambiental e pode causar efeitos adversos à saúde das antas e, talvez, de outros animais. Precisamos olhar com mais seriedade para essa questão que afeta os animais silvestres e as vidas humanas. É inadmissível a utilização de agrotóxicos sem critérios e sem fiscalização”, conclui Patrícia.