Entenda por que MS lidera em taxa de imunizados

No estado, 23,38% da população está com o ciclo vacinal completo. O secretário estadual de Saúde relata algumas medidas de o estado ser líder na aplicação de 1ª e 2ª doses da vacina.

Incentivo financeiro, vacinação na fronteira, comunicação entre municípios e logística dinâmica. Segundo especialistas e o governo do estado, essas medidas podem ter feito com que o Mato Grosso do Sul tenha alcançado 23,38% de sua população imunizada com as duas doses (ou única) de vacinas contra Covid. Ao se comparar o percentual de cidadãos brasileiros completamente vacinados, o estado possui quase o dobro de pessoas imunizadas.

De acordo com os dados do consórcio de veículos de imprensa contabilizados na terça-feira (6), 13,13% da população do Brasil teve acesso ao ciclo de imunização completo contra a Covid. Diante do cenário, o G1 questionou especialistas e o governo do estado sobre quais medidas têm sido tomadas para que o Mato Grosso do Sul seja atualmente o líder da vacinação, tanto em 1ª e 2ª dose.

O secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, elenca quatro ações principais do estado que podem ter influenciado o atual resultado:

  1. Incentivo financeiro a municípios
  2. Logística: chegou, aplicou
  3. Busca ativa
  4. Vacinação na fronteira

 

Resende diz que a meta é que, ainda em agosto, 80% dos moradores em Mato Grosso do Sul tenham recebido, pelo menos, a primeira dose.

O infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Rivaldo Venâncio vê na resposta rápida de Mato Grosso do Sul à vacinação uma saída mais rápida da pandemia. “Quanto mais rápido aplicar a vacina, melhor. A resposta será mais veloz e isso apresenta apenas benefícios e diminui a quantidade de pessoas suscetíveis e a aumenta o número de pessoas protegidas em um espaço mais curto”, descreveu.

Veja os detalhes de cada uma das 4 medidas:

Incentivo financeiro a municípios

 

 

No início de junho deste ano, a SES divulgou uma resolução que estabelece incentivo financeiro de R$ 5,8 milhões aos municípios que aplicarem as doses recebidas de vacinas contra a Covid-19. A ação tem como objetivo o fortalecimento das ações de vacinação contra a doença no estado.

A proposta de ajuda financeira é a seguinte:

  • o município que apresentar um percentual entre 90% a 94,99% de doses aplicadas em relação às doses enviadas, receberá no mês subsequente 70% do valor previsto de repasse.
  • o município que apresentar um percentual superior a 95% de doses aplicadas receberá 100% do incentivo.

 

Conforme a SES, os 79 municípios receberam a primeira parcela, sendo que 62 deles ultrapassaram a meta de 95% das doses enviadas e receberam 100% do incentivo, e 17 aplicaram entre 90% e 95% das doses recebidas e receberam 70% do incentivo previsto.

O valor total previsto por município será dividido em seis parcelas, referente à quantidade de meses que serão efetuados os repasses (julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro). A parcela de julho já teria sido transferida para as contas dos municípios, segundo a SES.

Logística: chegou, aplicou

 

Centro de distribuição de vacinas fica em Campo Grande.  — Foto: SES/Reprodução
Centro de distribuição de vacinas fica em Campo Grande. — Foto: SES/Reprodução

Outro motivo para o bom desempenho da vacinação no MS seria a logística de entrega das doses aos 79 municípios do estado, segundo Resende.

“A logística envolvendo a SES, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública e os 79 municípios permitem que as vacinas cheguem em todas as cidades em até 12h após a chegada do lote enviado pelo Ministério da Saúde. Conseguimos fazer isto nas 29 remessas que recebemos”, diz o secretário de Saúde.

 

 

Os passos são:

  • As doses chegam pelo aeroporto internacional de Campo Grande;
  • São enviadas à Coordenadoria Estadual de Vigilância Epidemiológica, onde uma força-tarefa monta as caixas térmicas que serão encaminhadas aos 79 municípios;
  • As caixas são transportadas em viaturas dos Bombeiros, Polícia Militar e Policia Civil até os municípios;
  • Alguns municípios também enviam equipes com veículos próprios para retirar a vacina na capital.

 

Venâncio, da Fiocruz, destaca que a boa prática e a aplicação de vacinas de forma rápida devem “nortear as decisões dos governantes”.

“Até onde sei, o que está acontecendo é que Mato Grosso do Sul ampliou e muito as equipes de vacinação. Ampliou o acesso para população alvo poder se vacinar. Nós vimos várias localidades do Brasil que continuam com as mesmas equipes, que não pediram ajuda. Algumas estão até com equipes reduzidas, com alto grau de deficiência para enfrentar uma vacinação emergencial”, pontua Venâncio.

 

Busca ativa

 

Dentro das cidades, também há uma boa distribuição e estratégias de busca ativa por pessoas que deveriam ter tomado a segunda dose do imunizante mas, até o momento, não foram atrás do reforço.

A chefe de imunização de Campo Grande, Veruska Lahdo, conta que a capital chegou a contar com mais de 50 pontos para aplicação das vacinas.

“Temos drive thrus e locais que as pessoas podem ir a pé, então tentamos otimizar da melhor forma a vacinação”, detalha Veruska.

Sobre a busca ativa, a secretaria municipal de Saúde de Campo Grande diz, em nota, são feitos contatos com as pessoas “através de aplicativo de mensagens, se ainda for notado que não houve eficácia, equipes entram em contato através de telefone e também, através da rotina dos agentes de saúde, são feitas também visitas a estes moradores, orientando que busquem pela vacina para completar o ciclo vacinal”.

Vacinação na fronteira

 

Com as 165 mil doses da Janssen, vacina contra Covid em dose única, que o estado recebeu no final de junho, foi criada a estratégia de formação de um “cinturão de imunização” em 13 cidades do estado que fazem fronteira com Paraguai e Bolívia.

A iniciativa faz parte de estudo do Vebra Covid-19 (Vaccine Effectiveness in Brazil Against COVID-19), que tem como objetivo principal pesquisar a efetividade e impacto da vacinação em massa na região de fronteira, que alcançará pessoas entre 18 a 50 anos na região.

Conforme os dados preliminares da SES, em três dias, mais de 40% do total de doses foram aplicadas. “Isso significa 54 mil pessoas imunizadas nestas 13 cidades de fronteira. Esse de fato é uma conquista, todos os municípios ganharam”, comemora Resende.

 

O “cinturão de imunização” é comandado pelo médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Júlio Croda. O estudo, além da Fiocruz, envolve também a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Stanford University, Yale University, Instituto de Salude Global de Barcelona, Universidade da Flórida e outras instituições científicas.

 

Croda explica que após 14 dias da aplicação da dose única da Janssen, tempo estimado para a imunização com o produto produzido pela Johnson & Johnson, serão feitas análises sobre a possível redução de riscos de forma sintomáticas, graves e óbitos pelo novo coronavírus.

Outro objetivo é avaliar a eficácia da vacina perante as variantes da Covid. De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela SES, Mato Grosso do Sul possui 14 variantes do coronavírus em circulação no estado.

Corumbá (MS), que faz fronteira com a Bolívia, está entre as cidades que mais recebeu doses da Janssen.

Em nota, a secretaria municipal de Saúde de Corumbá pontua que “pessoas que não tomaram a vacina antes estão procurando agora. Estamos realizando busca ativa para atingir o objetivo que é a vacinação em massa e está tendo uma boa resposta das pessoas”.

Fonte: José Câmara, G1 MS