“Nortão” de Mato Grosso do Sul começa a acordar

A grande surpresa em se tratando de desenvolvimento econômico em Mato Grosso do Sul no ano que se encerra – embora poucos tenham conhecimento – é a região norte de Mato Grosso do Sul.

Justamente a região que, até então, era a mais problemática e que tinha mais dificuldades para se desenvolver economicamente em relação às demais.

Na verdade, o processo desenvolvimentista no norte de MS está apenas se iniciando. Mas no maior quieto, empreendimentos muito importantes estão sendo implantados em municípios até recentemente tidos como muito pobres, e sem grandes perspectivas de progresso, como Pedro Gomes, Sonora e Coxim, por exemplo.

O carro-chefe nesse processo – e isso não é novidade para ninguém – é o município de São Gabriel do Oeste que, hoje, não é apenas um grande produtor de soja e milho, e também um exemplo de sucesso na suinocultura.

São Gabriel atualmente também produz tourinhos de altíssima qualidade genética, e produz – com tecnologia de primeiro mundo – ovos que vêm sendo consumidos por toda a região norte e mais alguns municípios do Estado, inclusive na região sul.

Há informações, inclusive, que a demanda é tão grande pelos ovos lá produzidos, que os dois empreendimentos instalados no município, já planejam a expansão de suas atividades.

RECUPERAÇÃO DE SOLOS DA REGIÃO

Na grande maioria dos municípios da região norte do Estado os solos encontram-se com algum grau de degradação. Em alguns, especialmente os mais ao norte, como Pedro Gomes e Coxim, a degradação dos solos até recentemente era muito grande.

E é justamente nessas áreas que tem surgido graves problemas como a incidência do percevejo-castanho, que vinha inviabilizando até mesmo o plantio de pastagens.

QUEBRANDO A TRADIÇÃO

Por uma questão cultural, pode-se dizer até que por tradição a pecuária desenvolvida de forma extensiva foi a força na região. Ocorre que poucos cuidados eram dedicados ao solo, o que acabou resultando em altos índices de degradação e a infestação pelo percevejo-castanho em muitas áreas de pastagem.

De alguns poucos anos para cá, com a chegada de filhos e netos dos tradicionais criadores à direção e gestão das propriedades, estes viram a necessidade de fazer alguma coisa para “salvar” suas propriedades desses problemas.

Começaram a surgir então projetos e sistemas integrados de produção, com a introdução da soja inclusive, seja por arrendamento, seja pelos próprios proprietários, e também a introdução de florestas integradas à pecuária.

“Não é por outra coisa que a região norte é hoje a que mais  investiu em projetos de recuperação de pastagens, por meio da integração lavoura-pecuária ou da integração de lavoura-pecuária-floresta ou de pecuária-floresta apenas”, citou o secretário da Produção e da Agricultura Familiar, Fernando Mendes Lamas.

Aqueles que conheceram mais de perto a região nas décadas de 80, 90 e até o ano de 2010, dizem estar surpresos ao passar pelas estradas e ver muitas áreas cultivadas com soja e florestas plantadas, uma completa novidade para a região.

Esses primeiros resultados positivos nas atividades produtivas da região norte, em especial naqueles municípios que eram considerados mais pobres e sem uma vocação econômica mais rentável, são resultado da inovação de ideias e da coragem dos jovens administradores das antigas propriedades.

Hoje existe, inclusive, atuando de forma organizada mas silenciosa e discreta, um grupo de representantes dessas propriedades e profissionais ligados ao setor agropecuário. Esse grupo trabalha para viabilizar os empreendimentos e inclusive começar a mostrar para o restante do Estado que a região pode e vai se tornar rica economicamente.

O número de empreendimentos nesta nova condição ainda não é tão expressivo, mas há uma tendência crescente de adesão de mais e mais proprietários a essa nova mentalidade empresarial de implantação de tecnologias visando a recuperação de pastagens e a introdução de outras atividades produtivas, a maioria baseada nos sistemas de integração com a agricultura e a implantação de florestas plantadas.

 

 

MAURÍCIO HUGO – Correio do Estado