Manoel Afonso: Alído e Nairo Brum: gente boa; fará falta!

Segundo o que pesquisei, ‘Brum’ significa personalidade inquieta, otimista, incansável de quem nunca desiste. Ainda descobri a origem da família, possivelmente da Holanda e Alemanha, com passagem pela Ilha dos Açores antes de chegar ao sul do Brasil.

E mais; o ‘idiche’, dialeto derivada do alemão, ainda cultivado inclusive por judeus em algumas regiões europeias – abriga um termo cuja tradução popular e histórica é aqui pertinente. É a palavra ‘mensch’ cujo significado seria ‘gente boa’ – gente como todos nós deveríamos ser e que se amolda como uma luva nesta homenagem póstuma

Testemunha ocular da saga da Família Brum, desde a distribuição dos lotes no ‘Assentamento Sucuriu’, acompanhei a sua luta perseverante na região inóspita e rejeitada pelos ruralistas tradicionais. Nesta época, o Alido não era mais criança. Com sua idade fez jus ao significado literal de ‘ Brum’. Começar de novo valia a pena.

Foi essa inquietude que o trouxe para esse desafio naquele ‘mundão de meu Deus’, na expressão de Guimarães Rosa em ‘Grande sertão veredas’. Anos difíceis pela natural falta de infraestrutura financeira/tecnica e irregularidades pluviométricas, castigando mas sem tirar nem uma lasca de esperança. Então, a persistência venceu!

Da agricultura para a pecuária leiteira foi um como saltar um ‘rego de água’. Nesta nova atividade (queijeira), na qual confessava ser um simples curioso na busca da fórmula ideal do queijo, ele acabou finalmente se realizando, massageando seu ego ao ser reconhecido com seus produtos pelos consumidores entidades e autoridades do ramo no Brasil e do exterior. Sua expressão mostrada nas entrevistas não deixava dúvidas. Estava feliz!

O legado deixado por ambos ( pai e filho) não pode ser mesurado sob o ponto de vista monetário, nem sempre justo do ponto de vista da ética e da moral. Comparativamente aos grandes grupos do agronegócio da região, a Família Brum é apenas um pingo de água. Mas o olhar apropriado neste caso é da lição de vida, da fé de ir adiante, do empreendedorismo familiar deixado para todos nós.

A parada para a compra de queijos era obrigatória. Nos últimos anos reservei minutos para aquela conversa amena com o Nairo – já travando a luta contra o câncer. Impressionava a imagem que passava ao se referir à doença, ao medicamento experimental que fazia uso. Mesmo fragilizado ele se mantinha sereno. De suas falas, tirei boas reflexões na minha viagem de volta à Campo Grande.

Da morte de ambos sentirão os parentes, conhecidos, clientes e amigos. Perde muito Paraíso das Águas pela referência positiva que a Família Brum proporcionava. Perde também o Chapadão do Sul por tudo que eles representavam em matéria de sucesso exemplar do empreendedorismo da agricultura familiar. Os dois se foram, mas deixaram marcas e lembranças positivas. Isso conta!

No arremate vale lembrar Goethe: “cada qual é o melhor auxiliar de si mesmo. É preciso mudar de vida, para tentar a sorte; é preciso meter mãos a obra, sacudir o corpo para agarrá-la.”

Manoel Afonso (mcritica@terra.com.br)