Saúde mental: Linha de frente sofre com sobrecarga e agressões de pacientes
A pandemia do coronavírus tem aumentado os casos de ansiedade em grande parte da população. Com os profissionais da linha de frente não é diferente e dezenas de médicos já foram afastados por problemas relacionados à saúde mental em Mato Grosso do Sul.
De acordo com Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul (Sinmed-MS), os principais motivos para o esgotamento são a rotina exaustiva de plantões hospitalares e também a pressão por parte dos pacientes, principalmente quanto à cobrança por tratamentos sem comprovação científica, como o chamado kit covid.
“Os médicos sentem como qualquer pessoa e vivenciam a pressão de lidar com a doença”, diz o médico psiquiatra Juberty Antônio de Souza.
Segundo o psiquiatra, somente ele já precisou afastar pelo menos dez médicos por apresentarem quadros de ansiedade.
Ainda segundo o psiquiatra, além da sobrecarga de trabalho e aumento de plantões por conta da pandemia, o quadro se torna mais torna mais preocupante devido ao atual momento não permitir válvulas de escape, como uma viagem, por exemplo.
“Vivemos uma situação em que a orientação é usar máscara, higienizar as mãos, manter o distanciamento social e vacinar – para os que já estão na faixa etária estabelecida. No mais é tentar, nas horas livres, desenvolver outras atividades que lhe dê satisfação para fazer um contraponto com o cenário que vivenciamos”, aconselha.
Além da rotina cansativa, outra situação que vem acontecendo e agrava o quadro a pressão de pacientes que insistem pela prescrição de medicamentos como a hidroxicloroquina, ivermectina e outros do kit covid, os quais estudos apontam que são ineficazes para o tratamento da Covid-19.
Uma médica de Três Lagoas, que preferiu não ser identificada, atua na linha de frente há quase um ano e procurou atendimento especializado após desenvolver um quadro de ansiedade provocado pelo estresse acumulado durante a pandemia.
Segundo ela, na semana passada, foi agredida verbalmente por um paciente que exigia a medicação e não aceitou a recusa.
“O que ocorre é que as pessoas já chegam com a conduta que elas acreditam ser a ideal e não aceitam ouvir nada em contrário”, contou.
A profissional registrou boletim de ocorrência e pediu transferência para outra unidade.
O presidente do Sinmed-MS, Marcelo Santana, também realiza plantões atuando na linha de frente e afirma que é necessário que todo profissional busque ajuda quando perceber que o dia a dia puxado dos hospitais está afetando a saúde mental.
“Nós médicos também precisamos estar atentos à nossa saúde mental e observarmos como estamos lidando com as situações para buscarmos atendimento, quando necessário”, pontuou.
O próprio Sinmed é um dos locais que os profissionais podem entrar em contato caso apresentem sinais de ansiedade, na Rua Eduardo Santos Pereira, 456, ou pelo telefone (67) 3384-2048.
Além dos problemas de saúde mental, os profissionais da linha de frente também estão sob risco de contaminação com a Covid-19, pois estão em contato direto com os pacientes.
*Correio do Estado, Glaucea Vaccari