Ministro diz que estuda priorizar a vacinação com 1 dose da Oxford para ‘reduzir a contaminação’
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta segunda-feira (11) que o foco da vacinação contra Covid-19 no Brasil poderá ser a redução da pandemia em vez de, no primeiro momento, assegurar a ‘imunidade completa’. Para Pazuello, o objetivo é frear a contaminação com a aplicação de pelo menos uma dose do imunizante do laboratório Astrazeneca em parceria com a universidade de Oxford.
Ao lado do governador Wilson Lima (PSC) e do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), Pazuello anunciou ações de combate à doença justamente em um momento em que a capital vive um colapso no sistema de saúde e funerário. O plano nacional de imunização foi um dos principais temas do discurso.
“Essas doses, que com duas doses você vai a 90 e tantos por cento [de imunização], com uma dose vai a 71%. Com 71% talvez a gente entre para imunização em massa, é uma estratégia que a Secretaria de Vigilância em Saúde vai fazer para reduzir a pandemia. Talvez o foco seja não na imunidade completa, mas sim a redução da contaminação e aí a pandemia diminui muito. Podendo aplicar a segunda dose na sequência, chegando a 90%”, afirmou.
Ele não informou o intervalo pretendido entre a aplicação da primeira e da segunda dose. A imunização, segundo o governo, começa pelo prazo considerado mais otimista, no dia 20 de janeiro.
A eficácia dessa vacina de Oxford, segundo dados divulgados por especialistas britânicos, é de 70%. Isso significa que 7 a cada 10 pessoas vacinadas apenas com a primeira dose da vacina de Oxford ficam protegidas 21 dias depois. Quando a segunda dose é aplicada, 12 semanas após a primeira, esse número sobe para 80%. As informações foram divulgadas no dia 30 de dezembro.
O G1 questionou a Fiocruz sobre o plano de adiar a segunda dose e aguarda resposta sobre a eficácia da medida para frear a Covid-19.
Segundo Pazuello, o Brasil já contratou 354 milhões de doses de vacinas contra o novo coronavírus. Da Fiocruz, que incorpora a tecnologia da Astrazenica Oxford, são 100 milhões de doses até junho e 110 milhões até dezembro, o que totalizaria 210 milhões do doses já contratadas.
O epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana, não integra a equipe de pesquisa da vacina, mas diz que “as vacinas que vamos usar não servem para frear o vírus, inclusive, na apresentação, foi enfatizado que ela serve para diminuir casos graves, não para evitar a circulação do vírus. Não há base científica para afirmar que com uma dose é possível proteger e não transmitir. Vacina não é uma fórmula milagrosa que você toma e evita a circulação do vírus”.
“Se você aplica uma dose, está em teoria subutilizando todo o potencial da vacina dentro do esquema proposto pelo protocolo. Com isso, como você explora menos o potencial imunogênico da vacina, vai ter um número maior de pessoas vacinadas que adoeceram, ainda que com casos leves”, diz Orellana. “E dependendo do intervalo que for dado para a aplicação da segunda dose, isso cria outro problema. Quanto maior a distância entre a primeira e segunda dose, maior chance de perder o paciente pelo desinteresse dele”.
Uso emergencial
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu na última sexta-feira (8) o pedido da Fiocruz para o uso emergencial da vacina de Oxford. O país não tem nenhuma dose do imunizante – o país conta com uma autorização de importação de 2 milhões de doses da vacina de Oxford de um laboratório indiano. Na última semana, Bolsonaro pediu urgência na entrega do imunizante.
Esse imunizante já é aplicado, com autorização emergencial, no Reino Unido. O uso emergencial também foi aprovado pela Argentina, México e Índia.
Sobre o Butantan, envolvido em um atrito entre os governos do estado de São Paulo e o governo federal, Pazuello disse que atualmente discute a autorização para o uso emergencial de 6 milhões de vacinas importadas pelo instituto ligado ao governo paulista.
“O Ministério nunca deixou de trabalhar tecnicamente com o Butantan para comprar a vacina quando estiver registrada e garantida a segurança e eficácia pela Anvisa ou autorização de uso emergencial”, afirmou. O Butantan trabalha em parceria com um laboratório chinês na produção da Sinovac. A produção no Brasil do imunizante já começou e soma cerca de 2,8 milhões de doses.
“Onde está a dificuldade [para liberação da Anvisa]? Não há registro na China nem autorização de uso emergencial ainda. E a Anvisa tem tido dificuldades de receber toda essa documentação pronta. Nós estamos trabalhando com o Butantan direto para que ele forneça essa documentação”, afirmou. ” Há todo o interesse do Ministério para que conclua essa análise e nos disponibilize para uso, mesmo que emergencial, os 6 milhões de doses”.
Sobre o calendário nacional de vacinação, Pazuello falou que todo o país deve começar a imunizar junto. “A vacina vai começar no dia D, na hora H no Brasil. No primeiro dia que chegar a vacina, ou que a autorização for feita, a partir do terceiro ou quarto dia já estará nos estados e municípios para começar a vacinação no Brasil. A prioridade está dada, é o Brasil todo”, disse o ministro.
Em São Paulo, o governador Doria (PSDB) disse que calendário estadual está mantido – 25 de janeiro. Se o governo federal antecipar a data, os paulistas começarão a receber a vacina com o restante do país.
Diagnóstico precoce
O ministro reforçou a importância do atendimento precoce. “A gente é competitivo. Se disser que tem que aguentar em casa, o caboclo aguenta até morrer”, disse . “A competição é quem vai primeiro procurar um médico, quem vai primeiro se tratar. Estou sendo enfático”.
Pazuello afirmou que é importante que o paciente receba um diagnóstico a partir do exame clínico, independentemente da realização de exames.
* G1 AM