Vacina ‘chinesa’? Médica de Campo Grande é imunizada pelo Butantan e garante: ‘não precisa ter medo’
A vacinação contra o coronavírus está próxima, mas as fake news sobre a imunização tem se espalhado cada vez mais entre a população. Nas redes sociais, boatos têm sido compartilhados com desconfiança, principalmente, da “vacina chinesa”. Vale lembrar que a Coronavac é uma vacina pelo laboratório Sinovac com o Instituto Butantan. O Jornal Midiamax conversou com uma das voluntárias no teste da vacina em Campo Grande, a médica explica que as pessoas não precisam ter medo.
A endocrinologista Maria Isabel Travi participou do estudo da Coronavac não só em prol da ciência, mas também para ser imunizada, já que ela lida com diversos pacientes todos os dias. Ela ainda não tinha sido infectada e conta que quando soube do estudo clínico, decidiu se candidatar.
“Eu tomei as duas doses. Este ensaio clínico é extremamente controlado, você recebe as duas doses sem saber se você foi imunizada ou não”, explica. O estudo, que foi realizado no HU (Hospital Universitário) em Campo Grande, buscou como voluntários profissionais da saúde que ainda não tivessem sido infectados, parte deles recebeu a dose da vacina e outros receberam o placebo.
A médica conta que só depois do estudo teve a confirmação de que havia recebido as doses da vacina. “O Butantan envia o teste, o meu pré era negativo e meu pós-vacina deu positivo. Ou seja, eu tive a sorte de receber a vacina. Antes, a gente não sabia quem recebeu placebo ou quem recebeu a vacina mesmo”.
Cerca de 24 horas depois de tomar a dose da vacina, a endocrinologista explica que teve alguns sintomas: febre, náuseas, dor abdominal, dor de cabeça e coriza. “É como se fossem os sintomas amenizados do coronavírus”, diz.
Travi explica que as pessoas não precisam ter medo e que os sintomas leves são comuns em vacinas que têm o vírus inativado. Não só com a Coronavac, mas pacientes podem apresentar alguns sintomas ao tomar as outras vacinas, como a AstraZeneca ou da Moderna.
“Quando você toma qualquer uma dessas vacinas, seja do Butantan, AstraZeneca, Moderna ou Janssen, você tem a resposta com a produção de anticorpos e a resposta celular, que dão algum tipo de sintoma. É como se estivesse com o vírus, de forma amenizada. Elas são absolutamente seguras”, garante.
A médica ressalta que as pessoas não precisam ter medo da vacina. As fake news têm espalhado o medo na população, de uma maneira jamais vista.
“Espero que as pessoas percam o medo e se imunizem, nenhuma entidade de controle vai liberar uma vacina que não é segura”, frisa.
Nesta semana, ministro da Saúde Eduardo Pazuello diesse que quem tomar a vacina contra Covid-19 deveria assinar um termo de consentimento. A médica ressalta que mesmo assim, as pessoas devem se imunizar. “É uma coisa sem noção, se as pessoas tiverem que assinar, devem assinar tranquilas e tomar vacina. Temos uma pandemia que tem matado milhares de pessoas, por que não tomar vacina?”, questiona.
Descaso com pandemia
Mato Grosso do Sul já tem 2 mil mortes causadas pelo coronavírus e os números têm aumentado cada vez mais nas últimas semanas. A média móvel chega a 1,1 mil novos casos diários no estado e já não há leitos para pacientes em Campo Grande. Mesmo assim, a população teima em desrespeitar as orientações dos profissionais da saúde.
A maioria dos municípios de Mato Grosso do Sul estão com a bandeira vermelha do Prosseguir, que significa alto risco para infecção por Covid-19. A endocrinologista que fez o teste com a Coronavac aponta que trata-se não só da negação de uma circunstância grave, que é a pandemia, mas é também uma falta de respeito com o próximo.
“Tem pessoas de idade, crianças, familiares infectados e continuam na balada. Em MS, temos 2 mil mortes, o que esses meninos tão comemorando? 65% dos infectados têm de 20 a 39 anos, é a turma da balada. Vamos nos respeitar, respeitar a população e nossos familiares”.
*Midiamax – Mylena Rocha