Sem respiradores, pacientes estão em ventilação manual em Campo Grande
Com as redes de saúde caminhando para um colapso, pacientes chegaram a ser Intubados com ventilação manual – o Ambu –, ontem, em Campo Grande, por falta de vagas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde há disponibilidade de respiradores mecânicos.
A situação teria ocorrido na Santa Casa da Capital e em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Segundo informações apuradas pelo Correio do Estado, pacientes que necessitavam de respiradores tiveram de receber ventilação pulmonar por meio de Ambu, equipamento que precisa ser bombeado por um profissional da saúde.
De acordo com a Santa Casa, um paciente permaneceu no Ambu, ontem, enquanto aguardava vaga em UTI. O hospital informou que o caso não se tratava de Covid-19, porém, não havia vaga para ele no setor.
Apesar de o dado apresentado mostrar ocupação em UTI geral de 85%, os leitos “vagos” estavam reservados para pessoas que estavam no centro cirúrgico, ou seja, na verdade, a ocupação era de 100%.
Em relação às UPAs, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) negou que isso tenha acontecido, mas confirmou que há pacientes Intubados nas unidades, entretanto, ainda segundo a pasta, todos estariam em respiradores.
As vagas de UTI nas UPAs deveriam ser apenas transitórias, já que esses locais não são hospitais e têm a função de apenas atender a emergência e encaminhar os pacientes para centros médicos especializados.
A Sesau não soube informar quantas das 20 vagas disponíveis com respiradores nas unidades estavam ocupadas ontem.
Para o médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Julio Croda, quando um paciente grave necessita de UTI e é atendido com o Ambu, isso pode prejudicá-lo.
“Não pode acontecer, deveria estar em um respirador. Não é a maneira apropriada de manter o paciente, idealmente pode manter no Ambu no máximo de 15 a30 minutos apenas para transferir ou conectar no aparelho”, explicou.
COLAPSO
A situação de Campo Grande tem se tornado crítica desde o fim de novembro, quando o número de casos de Covid-19 teve um grande crescimento.
Atualmente, a cidade tem ocupação de mais de 100% nos leitos de UTI para pacientes de Covid-19 e 93,4% para pessoas com outras doenças, segundo dados do sistema Mais Saúde, do governo do Estado.
Os leitos clínicos reservados a pacientes com Covid-19 também estão esgotados.
Segundo o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, para conseguir atender a demanda por pacientes, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul precisou colocar leitos no centro cirúrgico, para evitar que as pessoas sejam atendidas em corredores.
Conforme a diretora da unidade, Rosana Leite, esse seria o segundo passo para aumentar leitos, mas apenas 10 vagas seriam ampliadas.
Caso ainda houvesse pessoas a serem atendidas, elas poderia ter que parar nos corredores, com auxílio de cilindros de oxigênio, já que a rede interna não comporta mais vagas.
“Falta vaga de tudo, então a Covid e não Covid fica sem leito de UTI. É o pior momento da pandemia aqui, a maior media móvel de número de casos e óbitos e a maior taxa de ocupação de UTI”, avalia Croda.
Ontem, conforme o Mais Saúde, sete pessoas estavam internadas no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian em leitos clínicos com Covid-19 e mais uma em UTI, porém, como a unidade não tem setor para tratar pacientes com essa doença, eles aguardavam serem transferidos.
REUNIÃO
Para tratar sobre esse assunto, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), por meio da promotora Ana Cristina Carneiro Dias, representante da Força-Tarefa do órgão contra a Covid-19, esteve em reunião com a Sesau e Secretaria de Estado de Saúde.
A promotora solicitou as secretarias acesso completo ao sistema de acompanhamento de leitos para monitorar a evolução de casos e internações do município.
*Correio do Estado – Daiany Albuquerque