Vacina da Pfizer é 90% eficaz contra Covid-19, diz estudo preliminar

WASHINGTON – A farmacêutica americana Pfizer disse nesta segunda-feira que sua vacina experimental foi mais de 90% eficaz na prevenção da Covid-19 com base em dados iniciais do estudo da fase 3, o final. A Pfizer e o laboratório de biotecnologia parceiro, o alemão BioNTech, são os primeiros fabricantes de medicamentos a apresentar dados bem-sucedidos de um ensaio clínico em grande escala de uma vacina contra o coronavírus.

As empresas disseram que até agora não encontraram nenhuma questão séria com a segurança do imunizante e esperam buscar autorização para uso de emergência nos EUA ainda este mês.

Se autorizada, o número de doses da vacina será inicialmente limitado. Muitas questões permanecem, incluindo por quanto tempo a vacina fornecerá proteção. No entanto, a notícia dá esperança de que outras vacinas em desenvolvimento contra o novo coronavírus também possam ser eficazes.

A vacina é testada no Brasil, junto com as candidatas da AstraZeneca/Universidade de Oxford (Reino Unido), Johnson & Johnson (EUA) e Sinovac Biotech (China).

De acordo com Pfizer, ainda não há acordo com laboratório ou instituição brasileira para a produção da vacina aqui. A compra da vacina em teste teria sido oferecida ao governo brasileiro, mas não houve resposta.

“Hoje é um grande dia para a ciência e a humanidade”, disse Albert Bourla, presidente e executivo-chefe da Pfizer, em um comunicado. “Estamos alcançando este marco crítico em nosso programa de desenvolvimento de vacinas em um momento em que o mundo mais precisa, com taxas de infecção atingindo novos recordes, hospitais quase excedendo a capacidade e economias lutando para reabrir.”

A Pfizer espera buscar ampla autorização de uso emergencial da vacina nos Estados Unidos para pessoas de 16 a 85 anos. Para isso, será necessário coletar dados de segurança de dois meses sobre cerca de metade dos cerca de 44 mil participantes do estudo, esperados para o final de novembro.

Esta eficácia de proteção ao vírus Sars-CoV-2 foi alcançada sete dias depois da segunda dose da vacina e 28 dias após a primeira, anunciou o grupo americano em um comunicado conjunto com a empresa BioNTech.

O cofundador e presidente-executivo da BioNTech, Ugur Sahin, disse estar otimista de que o efeito protetor de sua vacina experimental COVID-19, desenvolvida em parceria com a Pfizer, duraria pelo menos um ano. “Devemos ser otimistas de que o efeito da imunização pode durar pelo menos um ano”, disse Sahin.

“Estou quase em êxtase”, disse Bill Gruber, um dos principais cientistas de vacinas da Pfizer, em uma entrevista. “Este é um grande dia para a saúde pública e para o potencial de nos tirar a todos das circunstâncias em que estamos agora.”

A Pfizer disse que a análise provisória foi conduzida depois que 94 participantes do estudo desenvolveram a Covid-19, examinando quantos deles receberam a vacina em comparação com o placebo.A empresa não detalhou exatamente quantos dos que adoeceram receberam a vacina. Ainda assim, mais de 90% de eficácia implica que não mais do que 8 das 94 pessoas que pegaram o coronavírus receberam a vacina, que foi administrada em duas injeções com intervalo de três semanas. A taxa de eficácia está bem acima da eficácia de 50% exigida pela Food and Drug Administration dos EUA (FDA, a Anvisa americana) para uma vacina contra o coronavírus.

Para confirmar sua taxa de eficácia, a Pfizer disse que continuará o estudo até que haja 164 casos de Covid-19 entre os participantes. Dado o recente aumento nas taxas de infecção dos EUA, esse número pode ser alcançado no início de dezembro, disse Gruber.

Os dados ainda não foram revisados por pares ou publicados em um jornal médico. A Pfizer disse que faria isso assim que tivesse os resultados de todo o estudo.

A vacina Pfizer e BioNTech usa tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), que se baseia em genes sintéticos que podem ser gerados e fabricados em semanas e produzidos em escala mais rapidamente do que as vacinas convencionais. O RNA contido na vacina carrega a informação genética da proteína spike (espícula) que o vírus usa para invadir as células humanas. Uma vez dentro do organismo, a vacina desencadeia a produção dessa proteína que atua como antígeno, estimulando o sistema imune a identificar e combater o vírus.

A Moderna Inc, cuja vacina candidata emprega tecnologia semelhante, deve relatar os resultados de seu ensaio em grande escala no final deste mês. A tecnologia de mRNA é projetada para desencadear uma resposta imune sem o uso de patógenos, como partículas de vírus reais.

Corrida Global

Pfizer e BioNTech têm um contrato de US $ 1,95 bilhão com o governo dos EUA para entregar 100 milhões de doses de vacinas a partir deste ano. Eles também fecharam acordos de fornecimento com a União Europeia, Reino Unido, Canadá e Japão.

Para agilizar, as empresas começaram a fabricar a vacina antes de saber se ela seria eficaz. Eles agora esperam produzir até 50 milhões de doses, ou seja, vacina suficiente para proteger 25 milhões de pessoas este ano.  A Pfizer disse que espera produzir até 1,3 bilhão de doses da vacina em 2021.

A corrida global por uma vacina viu os países mais ricos firmarem acordos de fornecimento multibilionários com fabricantes de medicamentos como Pfizer, AstraZeneca Plc e Johnson & Johnson Inc, levantando questões sobre quando as nações de renda média e mais pobres terão acesso às vacinas.

A busca dos EUA por uma vacina tem sido a resposta central da administração de Trump à pandemia. Os Estados Unidos têm o maior número conhecido de casos e mortes de Covid-19 do mundo, com mais de 10 milhões de infecções e mais de 237 mil mortes.

O presidente Donald Trump assegurou repetidamente ao público que seu governo provavelmente identificaria uma vacina bem-sucedida a tempo para a eleição presidencial, realizada na terça-feira passada. No sábado, o rival democrata Joe Biden foi declarado vencedor.

A Pfizer sozinha não terá capacidade para fornecer imediatamente vacinas suficientes para todos os Estados Unidos. A administração Trump disse que terá abastecimento suficiente para todos os 330 milhões de residentes dos EUA que desejam ser vacinados até meados de 2021.

As vacinas são vistas como ferramentas essenciais para ajudar a acabar com a crise de saúde que fechou empresas e deixou milhões de pessoas sem trabalho. Milhões de crianças cujas escolas foram fechadas em março continuam em programas de ensino à distância.

Dezenas de fabricantes de medicamentos e grupos de pesquisa em todo o mundo correram para desenvolver vacinas contra Covid-19, que no domingo ultrapassou 50 milhões de infecções desde que o novo coronavírus surgiu no final do ano passado na China.

 

 

 

*O Globo, com agências internacionais