Semana farroupilha: Conheça um pouca da Historia das Comemorações de Chapadão do Sul

O CTG- Cultivando a Tradição de Chapadão do Sul, esta realizando a 34ª Semana Farroupilha. Esse ano devido a Pandemia, foi restrito o numero de pessoas presente no local.

Com isso a nossa reportagem, esteve em contato com um dos fundadores do CTG, Wandernei Gaercia (VANK), que fez um breve histórico das dificuldades e como teve inicio as comemorações em Chapadão do Sul.

1ª SEMANA FARROUPILHA – O ano era 1987 – Chapadão do Sul ainda não era emancipado politicamente – e a gauchada já manifestava seu amor pela querência. Deixar os distantes pagos do Rio Grande, Paraná e Santa Catarina para viver neste

longínquo “torrão” era para poucos na época. Foram chamados de aventureiros porque por muito tempo aguentaram a poeira e o barro na estação de chuva numa terra que era apenas promessa. A separação de tempo chuvoso para estiagem se dava praticamente em período de seis meses

Donas de casa se deparavam com ventos e poeira na estiagem, sem falar no barral. Reclamações não faltavam e já haviam manifestações políticas sobre a emancipação que era questão de tempo. Cassilândia tentava segurar para não perder o bolo da arrecadação que com certeza cedo ou tarde viria a acontecer com a independência de Chapadão do Sul. A comissão de emancipação trabalhando a todo vapor. Uns contra, outros a favor, e o barco navegava. Como na política nem tudo são rosas, a maioria estava pronta para decidir e mandar um sim no tão sonhado plebiscito que mudou nossa história.

NARRATIVAS históricas ocorridas há 34 anos

Fim de festa, estávamos no sábado próximo ao esperado “20 de Setembro”, quando todo o Rio Grande estava em festa pelos quatro cantos. Festejos da Semana Farroupilha e nós aqui, num simples Galpão Crioulo, mas firmes, voltados às nossas origens, recordando um pouco do que tínhamos deixado para traz. Logo foi feito um fogo de chão, onde as labaredas dos gravetos nos repontavam às recordações que passaram. O tempo não perdoa – desde o mais simples ao mais altivo – e se perde nos pensamentos quando nos vemos distante do pago. A cancha reta da vida nos leva relembrar o que já fizemos e o que está por vir. Como já dizia o poeta em sua bela prosa (Retorno Bravo):

“Ali na porta do rancho, junto ao cusquito raivoso, o velho guasca orgulhoso, olhava o filho partir”

E assim foi com tantos que para cá vieram e deixaram seu pago distante, talvez nunca mais voltando, mas sempre orgulhosos de cultivarem o amor pela querência, nem que seja através de cantos ou costumes galponeiros. O chimarrão corria de mão em mão, a brasa temperava um pouco de água numa velha cambona preta trazida pelo Paulinho de alguma fazenda que tinha nos emprestado, junto com os aperos para decorar o galpão. Mais visitantes chegavam e o assador já se preparava a lide quando – de repente – um cuera gritou da porteira do galpão para que todos se preparassem com lenha seca que um temporal se aproximava.

O alerta foi dado por Vitório Tontini que sempre ao lado de Augusto Krug contava causos de galpão que retratavam um pouco do que estávamos vivendo. A noite foi se chegando e não sobrava mais espaço no pequeno rancho. Gente de toda parte, gaita e violão se entreveravam entre uma prosa e outra, de algum lado o amigo “Pipo” tricotava umas de pescaria com o velho e querido amigo Adão Arruda, sempre acompanhados por uma “loira gelada”.

Mais recostados Toninho Assunção e Ary Nunes projetavam “E assim foi com tantos que para cá vieram e deixaram seu pago distante, talvez nunca mais voltando, mas sempre orgulhosos de cultivarem o amor pela querência, nem que seja através de cantos ou costumes galponeiros”o baile que ocorreria logo mais a noite no Salão Paroquial. Cláudio Andrigueto (Chicão) nos presenteou com um borrego para ser logo assado. Não muito distante Paulo Lauter cevava um mate servido pelo Fernando Torres. No outro canto o amigo Euzébio Pozzer, com sua calma peculiar, já tinha feito sua parte ao doar uma leitoa logo no primeiro dia de Galpão Crioulo. Esta foi a primeira doação recebida (marca registrada) do homem que futuramente seria o patrono do Galpão Crioulo de chapadão, que leva seu nome.

Iam chegando Jarbinhas, Zé Coceira, Claudete, Jussara, e Betinho com a turma da Campo Bom. Entre a poeira e a fumaça, faltava banco para a gauchada. Na ocasião tinha uma cerca de taquara na frente do rancho onde muitos se recostavam para um trago ou um gole de vinho de garrafão “na floresta de eucalipto” que começava onde está a loja Lastro Móveis  com árvore de até 30 metros de altura onde cavaleiros de fazendas amarravam seus potros

Ari e Osvaldir Tontini também foram grandes colaboradores do Galpão Crioulo, entre tantos outros que nos fogem à memória. Formou-se uma família e as festas já estavam mais concorridas. Os convites para jantares se multiplicavam. Tinha que se levar sempre um violão para animar os presentes. Todos os fins de semana ocorriam serenatas ou roda de viola com Tonhão e Donizeti, dupla de violeiros que se entreverou com a gauchada.

Num sábado à noite ocorreu o tão esperado baile do chope no salão paroquial, para quem esperava que o galpão iria esvaziar se enganou porque tinha muita gente e bastante carne para consumir até domingo porque a churrasqueira trabalhou toda a noite.

Aqueles que foram para o baile logo começavam a voltar para o aperitivo da madrugada. Lá pelas tantas, quando a festa estava animada apagaram o lampião e a bagunça foi formada. Ninguém sabia o que tinha acontecido. O povo foi se chegando pela madrugada e junto trouxeram os barris de chope que tinha sobrado. A banda veio junto. Foi ali que o fandango continuou até a tarde do domingo. Chope, gado, carneiro, porco, bebida à vontade, crianças vindas com os pais, festa das mais sadias mesmo. No mesmo domingo teve um jogo da SERC e os jogadores com outros amigos também vieram se juntar no galpão: Luizão, Valdi Schultz, João Tontini e outros,

Não demorou muito tempo e caiu o temporal anunciado pelo Vitório Tontini. Chegou junto com trovões e raios. Um deles desceu por um eucalipto e entrou na barraca por uma taquara de bambu. Quem estava no local teve que se agarrar na lona ou nas taquaras porque do contrário iria tudo pelos ares. De repente ouve se um grito, alguém engoliu a língua. Agora o assunto era muito sério, deixando de ser apenas causo de galpão. Vitório, com sua experiência, rapidamente gritou “me tragam uma colher” para puxar a língua do Luizão. E de fato salvou a vida do vivente que continuou a ajudar na festa até o final.

..é triste mas é verdade, chegou ao final o 1° Galpão Crioulo de Chapadão do Sul que até hoje nos dá saudade

Autor Wandernei Garcia (Wank)

narrativas: Wank, Paulo Lautert e Fernando Torres.