Três cortes fechados por 20 pontos cirúrgicos são cicatrizes físicas no corpo de Maria Aldenir Barbosa da Silva, 57 anos, consequências da noite de terror na qual a filha dela, Aldenir Soares da Silva, de 35 anos, foi vítima de feminicídio. Duas semanas depois, as marcas até podem estar se curando, mas o coração de mãe, esse não esquece do pavor, da tentativa de lutar contra o assassino e da cena da morte da filha a golpes de “peixeira” de 30 centímetros por Veronil Pereira da Rocha, preso preventivamente pelo crime.
No depoimento à polícia, a mãe misturou lágrimas às palavras. Principalmente quando contou que, como em tom de despedida, Aldenir pediu socorro durante a briga aos gritos.
“Mãe, não deixa ele me matar, mãe. Por favor socorro. Eu te amo”, suplicou a vítima, conforme o relato feito por Maria Aldenir.
É a segunda filha que Maria Aldenir perde de forma violenta. Dezesseis anos atrás, quando vivia no Tocantins, Alda Soares da Silva, 17 anos, morreu em acidente de trânsito. Estava na garupa de motocicleta e caiu, batendo a cabeça na pista.
À época, o companheiro de quem a adolescente tentava se separar ficou sob suspeita de provocar a queda de Alda. Ele pilotava a moto. “Mas nunca foi preso, nunca entendi o que aconteceu direito”, conta a mãe.
A jovem deixou um bebê, então com cinco meses. Foi ele, agora adolescente, a testemunha junto com a avó do assassinato de Aldenir. Em uma dessas repetições de situações trágicas, a tia, a quem tratava como mãe, também estava tentando por fim ao relacionamento amoroso.
“Não consigo” – Maria Aldenir precisou sair da própria casa depois da tragédia. Primeiro ficar com parentes no Tocantins e agora está vivendo com um sobrinho em Chapadão do Sul, , onde tudo aconteceu.
“Hoje vou tentar dormir lá”, contou à reportagem, nesta sexta-feira (10). Depois da morte de Aldenir, ela já esteve no lugar, que foi limpo e arrumado pelos familiares, mas não para ficar. “Voltei porque foi o jeito: enfrentar”, disse.
A filha assassinada morava havia um ano com Veronil na casa, construída graças a empréstimo tomado por Maria Aldenir. Agora, ficou a dívida para pagar e um “buraco” no peito. Na cabeça, uma repetição da cena violenta, a cada dia. “Eu acordo e lembro”.
Cenas de terror – Foram, segundo ela lembra, cerca de 30 minutos de violência absurda. Veronil chegou no lugar por volta das 18h30 e começou discussão com Aldenir, envolvendo a vontade dela de se separar, depois de 3 anos de relacionamento.
No diálogo descrito, Aldenir manda Veronil embora da casa construída pela mãe. Ouve-se gritos dele dizendo que não sairia. Chega a declarar, conforme depoimento à polícia, a frase “eu viro o capeta mas não saio de casa”.
Quando ele começou a ser violento, a vítima pediu socorro à mãe, na casa da frente, com a súplica já citada acima.
O homem, conforme relatado, ficou ainda mais agressivo. Quando Maria Aldenir disse que chamaria a polícia, recorda-se a mãe, ele pegou a faca, uma “peixeira”, segundo ela, e passou a atacar Aldenir.
A mãe catou o que estava mais perto para defender a filha, um cabo de vassoura, e passou a dar golpes no “feminicida”. A arma improvisada se quebrou. Ela pegou outro pedaço de madeira, lutou com o assassino, em vão. Acabou sofrendo cortes nos braços e nas axilas, sob ataque de faca.
A filha já estava morta. Veronil, testemunharam avó e neto, ainda virou o corpo da então companheira e cortou os pulsos dela. Fugiu do lugar ameaçando voltar para “terminar o serviço” em relação à sogra.,
O assassino, de 45 anos, está preso desde 28 de junho, quando se apresentou à polícia, achando que conseguiria fugir do flagrante. Já havia preventiva contra ele. Isso significa ficar na cadeia enquanto durar o processo, a menos que a consiga algum tipo de ordem de soltura, o que tem sido incomum em casos desse tipo.
Para a mãe vítima de tragédias com duas filhas, sobra a fé. “Jesus é bom, me dá toda a força”.
Marta Ferreira – CAMPO GRANDE NEWS