AMPLA VISÃO| Desilusão e raiva marcam o eleitor

‘FAXINA’: Acompanho o parlamento estadual há várias legislaturas. Nelas, também foram aprovadas leis praticamente inócuas, sem aplicação e que pouco acrescentaram ao ordenamento jurídico. Fruto do corporativismo; um deputado retribuindo a postura do colega. Agora, o deputado Evander Vendramini (PP) pesquisa e propõe a revogação destas leis. O ‘entulho’ descartado é um alerta aos deputados no critério da aprovação de leis, para que elas não nasçam mortas, sem utilidade. Aliás, já temos leis demais!
ALELUIA!!! A aprovação do esperado socorro do Governo Federal num total de R$60 bilhões e a suspensão das dívidas trouxeram alívio temporário para as finanças de Mato Grosso do Sul. Foi bem o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) ao dizer que ‘é tempo de união, não de embates”. Esse equilíbrio de postura, sem raivosidade, valeu a sua indicação para falar em nome dos governadores em recente videoconferência com o presidente Bolsonaro. Repetindo: aleluia!
FOLCLORE: O governador de Seixas Dória, de Sergipe, teve que viajar para o Rio de Janeiro, e o vice governador Celso Carvalho fora a Natal (RN) devido a morte da sua sogra. Aí – assumiu o governo o deputado Fernando Leite, presidente da A. Legislativa. Vaidoso, sentiu-se a cereja do bolo em 2 dias de poder, enviou telegramas para todas as autoridades comunicando o fato. E mais: mandou um telegrama à mãe enferma no Rio de Janeiro : “Mamãe, pode morrer tranquila. Seu filho é governador. Beijos. Fernando”.
ERROUUUUU!! A jornalista Sônia Racy, ‘Estadão’, perguntou (em 2 de março) ao médico Dráuzio Varella se o Brasil estava preparado para o coronavírus? Ele respondeu: “Está. Acho que o mundo, de um modo geral, está mais preparado. E o SUS tem condições de atender. Só vai depender da quantidade de casos. Agora, a repercussão do coronavírus está em dissintonia com a realidade dos dados. Não há essa calamidade…”
1-DA ASSEMBLEIA: Deputado Antônio Vaz (Republicanos): Presidiu reunião da Comissão E. de Saúde detalhando os gastos do Estado em R$22,6 milhões contra o Covid-19 neste quadrimestre . Deputado Lucas de Lima (Solidariedade) : Articula eventos e para arrecadar alimentos e outros produtos para segmentos da classe artística, ociosa pela pandemia; insiste na distribuição de máscaras aos usuários de ônibus no MS. Deputado Gerson Claro (PP): Elogiado líder do Governo; na Comissão de C. Justiça e Redação votou contra projeto alterando dispositivos relativos ao Direito do Consumidor. Deputado Evander Vendramini (PP): Questiona o fechamento das atividades do SESC em Corumba; Requer que o Instituto Chico Mendes instale sua nova sede em Corumbá; aprovado seu projeto garantindo aulas ‘on line’ aos alunos internados pelo Covid-19 e ainda aos em recuperação.
É GERAL! As relações entre a população e a classe política remete-nos a situação conflituosa vivida pela mulher de malandro. ‘Apanha, reclama, mas continua junto por falta de alternativa’. Em recente amostra da Ranking Comunicação e Pesquisas em 20 cidades, um item – na relação dos problemas mais graves chama a atenção: 20,59% sentem raiva dos políticos. Conclusão: o eleitor irá às urnas com mais raiva do que esperança. Mas acho inclusive que o grupo raivoso (leia-se indignado) é maior e indago: Será que o ilustre leitor não faz parte deste time de ‘raivosos’ (‘pês da vida’) ?
OS NÚMEROS desta pesquisa confirmam o pensamento coletivo de que os políticos pensariam primeiro nos seus interesses do que nas necessidades da população. Ora! A igualdade do voto – mesmo na democracia – pode não traduzir a efetiva igualdade de representação. No fundo, o eleitor tem menos liberdade do que imagina só porque decidirá que números poderá clicar. Alguém já comparou essa situação ao cidadão que convidado para festa, não entra no espaço vip só da ‘diretoria’. Na mesa farta as benesses; aposentadoria especial, imunidade, mordomias e benefícios mil.
NO FUNDO essa raiva revelada é o represamento de problemas em nível nacional , como dívidas, desemprego, corrupção, doença, desesperança, desigualdade, fome, saúde, corrupção na polícia e no judiciário. Se você somar o percentual dos ‘raivosos’ com os percentuais de outros problemas colocados na pesquisa, concluirá que os números reais são muito maiores. A verdade é que há uma espécie de nuvem carregada, (desilusão & raiva) sobre a cabeça do eleitor, que infelizmente é vítima e cúmplice.
IMPRESSIONA a postura dos congressistas. Em proveito próprio separam o direito da moral. O lema: Meu pirão primeiro! Afinal aqui não é a Suécia! Quase duas centenas deles não abriram mão da aposentadoria especial. Esquerda, centro e direita iguais. Olham só para o próprio umbigo. Na questão do uso do dinheiro do ‘Fundo Eleitoral’ ouvimos do senador David Alcolumbre (DEM) argumentos de derreter o busto de Ruy Barbosa. E impressiona: mesmo os parlamentares novatos decepcionam. Esse conjunto de fatos faz com que o eleitor vá às urnas com faca nos dentes. Pê da vida!
2-DA ASSEMBLEIA: Deputado Marçal Filho (PSDB): Olha de perto a situação dos hospitais públicos e privados na luta contra o Covid-19; participação ativa das sessões ‘on line’. Deputado José Teixeira (DEM): otimista com seu projeto obrigando as concessionários públicas a promoverem campanha pela doação de sangue. Sua outra proposta institui multa aos propagadores de fake News do Covid-19.
MAIORES desafios nas 20 principais cidades de MS: Coronavírus 82,94% – Falta de renda 44,76% – Saúde 40,65% – Desemprego 38,29% – Segurança 36,70% – Raiva dos políticos 29,53% – Dívidas 25,06% – Drogas 23,12 – Corrupção 21,24% – Obras paralisadas 19,00% – Escolas fechadas 18,88% – Energia cara 17,41%. Os números são da pesquisa (estimulada) entre os dias 20 e 26 de maio – efetivada pela Ranking Comunicação e Pesquisa – ouvindo 1800 pessoas. A margem de erro é de 2,5% para mais ou para menos e o nível de confiança de 95%.
E MAIS: Avaliação do desempenho do Governo Estadual: Bom/ótimo 28,12% – regular 34,47% – ruim/péssimo 31,24% – não sabem/não responderam 6,17%. Avaliação do Governo Federal: Bom/ótimo 26,29% – regular 28,35% – ruim/péssimo 42,06% – não sabem/não responderam 3,30%. A amostra foi efetivada nas mesmas cidades e datas citadas no tópico anterior desta coluna.
‘PÃO DE QUEIJO’: Juscelino era o xodó dos mineiros na época do regime Militar. Mas falar dele era perigoso. Então os espertos vereadores da emblemática Diamantina pediram ao Contran que as placas da cidade tivessem as letras JK – argumentando se tratar de homenagem ao presidente John Kennedy. Mas o Contran percebeu o golpe, o real objetivo e negou a solicitação. Um vereador de Diamantino ironizou: “Esse pessoal do Contran deve ser do Partido Republicano, eleitor do Richard Nixon”.
3-DA ASSEMBLEIA: Deputado Capitão Contar (PSL): Relator da CPI-Energisa pede esclarecimentos junto ao Inmetro para provar que a USP está apta para periciar os relógios da empresa. Deputado Neno Razuk (PTB): Requer adoção pelos hospitais de protocolo diário de informações do estado clínico de paciente do Coronavídeo-19. Deputado Lídio Lopes (Patriota): Requer dilação de prazo para o Procap até 30 de julho; analisou 12 projetos na presidência da Comissão C.Justiça e Redação. Deputado José C. Barbosa (DEM): Pede explicações sobre o ‘toque de recolher’ adotado pela Prefeitura Municipal de Dourados; recebeu pedido da Associação dos Moradores do Parque dos Jequitibás para asfaltamento naquela região de Dourados.
RESOLVE? Com mais de 30 partidos políticos há uma gama incrível de opções para acomodar gregos e troianos e ajeitar certas situações, inclusive familiares. Sobre isso existe no folclore político o episódio ocorrido lá em Bagé (RS) após a extinção da Arena e do MDB. Um vereador do MDB, filiou sua mulher no PDS, motivando a pergunta do senador Pedro Simon (MDB): Como é que você fica no MDB e sua mulher no PDS ? O vereador emendou sorrindo: “Pois é senador, não se preocupe. Ainda tenho três filhos para aproveitar essa tal reforma partidária.”
REFLEXÃO: “ ( – )…O vírus, além de seu efeito devastador produz lição de humildade aos governantes. O quanto é ilusório é o poder! Até os mais autoritários líderes mundiais dobraram os joelhos…(-)…Será que descobriremos a quase inutilidade dessa guerra ideológica polarizada e de má qualidade?…(-)… aprenderemos que ninguém é dono da verdade?…(-)…Não temos vacina, remédios com eficácia comprovada…(-)…Será que depois da crise valorizaremos e daremos mais atenção ao sistema e sobretudo aos seus profissionais e ao SUS?…(-)…Transformar a tempestade em bonança depende de nós…”. (Marcus Pestana – ex-deputado federal)

“As crises nos acordam para as coisas boas que não percebemos”. (Robin Willians no filme Gênio Indomável)