O Ministério da Saúde divulgou nesta quarta-feira (20) o protocolo que libera no SUS o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina até para casos leves de covid-19. Até então, o protocolo previa os remédios para casos graves.
A mudança no protocolo era um desejo do presidente Jair Bolsonaro, defensor da cloroquina no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. Não há comprovação científica de que a cloroquina é capaz de curar a covid-19. Estudos internacionais não encontraram eficácia no remédio e a Sociedade Brasileira de Infectologia não recomenda o uso.
O protocolo da cloroquina foi motivo de atrito entre Bolsonaro e os últimos dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Em menos de um mês, os dois deixaram o governo.
No novo protocolo divulgado pelo ministério não aparece assinatura de nenhuma autoridade. O texto mantém a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e de o médico decidir sobre a aplicar ou não o remédio.
O termo de consentimento, que deve ser assinado pelo paciente, ressalta que “não existe garantia de resultados positivos” que “não há estudos demonstrando benefícios clínicos”.
O documento afirma ainda que o paciente deve saber que a cloroquina pode causar efeitos colaterais que podem levar à “disfunção grave de órgãos, ao prolongamento da internação, à incapacidade temporária ou permanente, e até ao óbito”.
Estudos não veem eficácia
A cloroquina e a hidroxicloroquina (derivado da cloroquina e guarda as mesmas propriedades, mas tem a toxicidade atenuada) já são usadas no tratamento da malária e algumas doenças reumáticas como artrite reumatoide e lúpus.
Uma das principais pesquisas para saber se os remédios poderiam ser usados no combate à covid-19 teve resultado publicado este mês na revista científica “Jama” (“Journal of the American Medical Association”).
O estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Albany, nos EUA, não encontrou relação entre o uso do medicamento e a redução da mortalidade pela doença. Foram analisados 1.438 pacientes infectados com coronavírus, em 25 hospitais de Nova York.
A taxa de mortalidade dos pacientes tratados com hidroxicloroquina foi semelhante à dos que não tomaram o medicamento, assim como à das pessoas que receberam hidroxicloroquina combinada com o antibiótico azitromicina.
Ainda segundo os autores do estudo, os pacientes que tomaram a combinação de medicamentos tiveram duas vezes mais chances de sofrer parada cardíaca. Problemas cardíacos são um efeito colateral conhecido da hidroxicloroquina.
Outra pesquisa sobre o tratamento com hidroxicloroquina, cujo resultado foi publicado recentemente na revista britânica “The New England Journal of Medicine”, já havia apresentado conclusão semelhante à divulgada pela “Jama”.
O estudo, feito no Presbyterian Hospital, em Nova York, e revisado por outros cientistas, não encontrou evidências de que a droga tenha reduzido o risco de intubação ou de morte pela covid-19.
Foram analisados pacientes em quadros moderados a graves.
Entre 1.376 pessoas acompanhadas, pacientes com e sem o tratamento com a droga apresentaram o mesmo risco de uma piora, necessidade de intubação e de morte.
*G1 – Brasília