Pesquisadores brasileiros desenvolveram uma técnica para reaproveitar resíduos da produção de cana-de-açúcar. Segundo a Agência Bori, o estudo é uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto e a Universidade Federal do Ceará (UFC).
A pesquisadora Laís Fregolente, informou que essa técnica pode ser usada na indústria diretamente, após o processo de destilação do etanol. “Aproveitamos assim somente os benefícios da aplicação da vinhaça, já que o processo de carbonização produz um material rico em carbono e nutrientes que pode servir como fertilizante agrícola”, explicou.
Assim, as indústrias ainda poderiam vender esse subproduto, tendo lucro a partir do tratamento dos resíduos da produção. Conforme o estudo, a cada litro de etanol produzido, entre dez e 18 litros de vinhaça são gerados. O tratamento proposto pode também contribuir com a recuperação de solos pobres, degradados ou até mesmo de regiões afetadas pelo despejo do poluente.
REAPROVEITAMENTO
A vinhaça da cana, líquido resultante do processo de produção do álcool, é prejudicial ao meio ambiente e pode contaminar rios e lagos, por exemplo, além de causar mau cheiro.
Nesse experimento, os pesquisadores testaram os efeitos de uma técnica chamada carbonização hidrotérmica para tratar a vinhaça. Essa reação é realizada em uma solução cuja base é feita de água, e levada a altas temperaturas e pressões. A variação de temperaturas (entre 100ºC e 200ºC) e tempo de reação nos testes (entre 12h e 48h) influenciaram nos processos.
Experimentos conduzidos a 200ºC e 8,3% de acidez foram os mais eficientes para gerar materiais sólidos. Uma das reações termoquímicas fez diminuir em 70% a quantidade de carbono na água, tornando-a menos nociva ao meio ambiente.
PUBLICAÇÃO
Os resultados desse estudo foram publicados na edição de janeiro do “Journal of the Brazilian Chemical Society”. No artigo, os pesquisadores destacaram a força dessa indústria.
O Brasil é o maior produtor de cana de açúcar do mundo, cultura que faz parte da História nacional desde os tempos de colônia. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2018/19 teve 10,1 milhões de hectares em área total e 8,5 milhões de hectares em área colhida.
A equipe destacou os riscos de descartar de forma inadequada os resíduos da produção. “Essa prática pode causar problemas para agricultura e pecuária; a aplicação de vinhaça para o solo em grandes quantidades pode gerar a formação de poças de vinhaça, que apresentam condições ideais para o desenvolvimento, por exemplo, da mosca estável, bem como causando desconforto devido ao seu mau cheiro. A mosca estável se alimenta de sangue bovino, promovendo condições de estresse para vacas, reduzindo a produção de leite ou ganhando peso ganho difícil”, diz trecho da publicação.
Outros experimentos estão sendo feitos para encontrar a melhor forma de aplicação do carvão hidrotérmico gerado neste processo. Os próximos passos deste estudo são elaborar uma planta piloto para testar os efeitos do carvão diretamente no solo, já que esse primeiro estudo foi feito em laboratório.
Correio do Estado