A alta no preço da carne bovina foi puxada pelo aumento da exportação do produto para países asiáticos e, principalmente, pela falta de oferta de bovinos no mercado interno, muito por conta da estiagem nos últimos meses. Para manter o preço e aumentar a oferta em Mato Grosso do Sul, o Estado aguarda autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para comprar 50 mil animais do Paraguai.
Segundo o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, a gestão estadual já fez o pedido para suprir a demanda. “Existe hoje um pedido de 50 mil animais para serem comprados do Paraguai e serem abatidos aqui. A compra ainda não ocorreu porque depende do Ministério da Agricultura autorizar. Mas a carne não volta no patamar anterior, é um ciclo; lá na frente pode ter, mas, por enquanto, acho que ainda teremos uma pressão de preço e o consumidor vai continuar pagando um preço alto pela carne bovina”, afirmou Verruck durante coletiva ontem.
Verruck afirmou que a demanda interna não aumentou. O movimento de alta foi causado pela lei de mercado (oferta e procura). “Essa questão do aumento súbito é, literalmente, um conceito de oferta e demanda. Há anos não aumentamos salário ou renda, então entende-se que a demanda de carne bovina está igual estava há um ano. Então só pode ter surgido aumento em função de uma demanda externa – não interna – e, ao mesmo tempo, do período de uma produção que não conseguiu atender a essa demanda externa. O que que aconteceu com a exportação pra China? O valor pago por uma tonelada de carne para exportação para a China fez com que, na composição do boi, esse frigorífico pudesse passar mais. Internamente, nós não temos nenhuma evolução de demanda”, informou.
Durante a inauguração do complexo industrial de processamento e refino de soja da Coamo, em Dourados, no dia 25 de novembro, a ministra Tereza Cristina havia declarado a possibilidade de importação de carne em caso de desabastecimento. “Você tem que lembrar quanto tempo a arroba do boi ficou parada. O produtor rural aguentou muitos anos isso. Esse é um momento de equilíbrio dessa cadeia produtiva; a cadeia vive um momento de euforia, mas já esse mercado vai se equilibrar. Os preços não serão os praticados há dois meses, mas acho que essa euforia não continua. É um momento de ajuste da carne brasileira. Eu acho que não se pode dizer vai faltar [carne]. E outra coisa: o Brasil é exportador, mas também pode importar a carne se precisar, para dar equilíbrio ao mercado”, afirmou a ministra.
O presidente da Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne (Assocarnes-MS), Sérgio Capuci, havia adiantado ao Correio do Estado que não acreditava que fosse faltar carne no mercado interno sul-mato-grossense, mas que, caso faltasse, provavelmente a importação seria realizada do Paraguai.
CONSUMIDOR FINAL
Mesmo com a redução no valor da arroba do boi, que no fim de novembro ultrapassou R$ 207, o preço da carne ainda não cedeu nos açougues de Campo Grande. Há uma semana, a reportagem do Correio do Estado percorreu os supermercados e açougues da cidade e constatou que os cortes bovinos continuavam em alta, com o quilo de músculo a R$ 19,90 e a picanha custando R$ 71.
Conforme dados da Scot Consultoria, a arroba do boi gordo é cotada a R$ 183 nesta segunda-feira (16), enquanto no dia 29 de novembro o valor praticado em Mato Grosso do Sul era de R$ 207 a arroba, queda de 11,59% em pouco mais de 15 dias. “Já houve uma mudança no cenário. Não está vendendo carne e, automaticamente, os frigoríficos começam a baixar o preço do boi. Então já estão comprando com preço menor do que antes. Para reduzir o preço para o consumidor final, depende dos açougues”, explicou Sérgio Capuci.
Segundo o secretário Jaime Verruck, o preço da carne de aves já subiu também. Antes, o quilo estava R$ 4,55; nesse fim de semana, já havia subido para R$ 6,55. “Eu faço uma aposta que vamos encontrar peru, chester e aves natalinas a um preço de frango, porque foi comprado lá em outubro. Então o que foi produzido vai ser disponibilizado. Outra questão é a própria carne suína: só alguns estados exportam. Não posso pegar o suíno aqui de Mato Grosso do Sul e exportar, porque eu não sou credenciado”, finalizou Verruck.
*Correio do Estado Súzan Benites e Ricardo Campos Jr.