‘Epidemia esquecida’: pneumonia mata uma criança de até 5 anos a cada 39 segundos

A pneumonia é uma “epidemia esquecida”, alerta a Unicef, a agência da ONU para a Infância, e outras cinco organizações, incluindo a ONG Save the Children, em comunicado divulgado nesta terça-feira (12). Em 2018, a doença respiratória matou uma criança de menos de 5 anos a cada 39 segundos, informa o texto.

 

Ao todo, mais de 800 mil crianças dessa faixa etária morreram no ano passado, vítimas da infecção.

“A maioria das mortes afeta crianças de menos de dois anos, sendo que 153 mil delas faleceram em seu primeiro mês de vida”, indicam as organizações.

O comunicado faz um apelo por uma “ação mundial” contra a pneumonia.

Infecção respiratória aguda

 

A infecção respiratória aguda, que afeta os pulmões, pode ser provocada por bactérias, vírus ou fungos microscópicos. Em caso de pneumonia, os alvéolos pulmonares ficam cheios de pus e líquido, o que torna a respiração dolorosa e limita a absorção de oxigênio. Existe vacina contra a pneumonia bacteriana. Os médicos lembram que se a doença for diagnosticada e tratada de forma adequada, dificilmente acontece um agravamento do quadro.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pneumonia é responsável por 15% do total de falecimentos de crianças de menos de cinco anos no planeta. A doença mata mais do que a Aids, a malária e o sarampo juntos.

“É uma epidemia mundial que precisa de uma resposta internacional urgente. Milhões de crianças morrem por falta de vacinas, de antibióticos e de tratamentos de oxigênio”, disse Kevin Watkins, da Save the Children.

Mais da metade das mortes de crianças provocadas pela pneumonia se concentram em cinco países: Nigéria (162 mil), Índia (127 mil), Paquistão (58 mil), República Democrática do Congo (40 mil) e Etiópia (32 mil).

No Brasil, a pneumonia é a doença infeciosa que mais mata. Em 2015, a taxa de mortalidade verificada no país em crianças menores de 5 anos era de 1,5 por 1 mil nascimentos.

Um fórum mundial sobre a pneumonia infantil será realizado em janeiro de 2020, em Barcelona (Espanha)

Os principais sintomas da pneumonia

Para caracterizar a doença, um ou vários desses sinais podem aparecer:

*Tosse;

*Dor no tórax;

*Alterações da pressão arterial;

*Expectoração com secreção amarelada;

*Falta de ar;

*Confusão mental;

*Estado de fraqueza e cansaço constante;

*Febre alta (mas ausência de febre não descarta a doença).

Fonte: Ministério da Saúde/Fiocruz

Por ser difícil diferenciar clinicamente um caso viral de um bacteriano, alguns pediatras preferem iniciar logo o tratamento com antibiótico. Outros profissionais, contudo, criticam esse hábito já que o uso de antibióticos indiscriminadamente poderia agravar as resistências ao remédio, favorecendo o surgimento de superbactérias.

No tratamento, não são indicados inibidores da tosse ? esse é um importante mecanismo do corpo para promover a limpeza do pulmão.

Óbitos

 

Assim que os pais suspeitarem que os filhos apresentam problemas respiratórios, a orientação é levar a criança para ser examinada por um profissional da saúde imediatamente porque o quadro pode ser agravar em questão de horas e, no caso de menores com o sistema imunológico já debilitado, pode levar até mesmo ao óbito.

De acordo com o relatório da Save the Children, divulgado na semana passada, duas crianças morrem a cada minuto devido à pneumonia. Em 2015, foram 920 mil óbitos, a maioria em países pobres do sul da Ásia e da África Subsaariana, daí a alcunha de “a doença da pobreza”, conforme a ONG. Em 2030, data para que todos os governos implementem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, ainda serão 730 mil de fatalidades nessa faixa etária, prevê o estudo.

 

Em nota à reportagem, o Ministério da Saúde esclareceu que a pneumonia não é uma doença de notificação compulsória no Brasil, consequentemente, não existiriam dados oficiais sobre a patologia. Segundo a Save the Children, em 2015, a taxa de mortalidade por pneumonia em crianças abaixo de cinco anos no Brasil era de 1,5 por 1000 nascimentos, o triplo do verificado nos Estados Unidos.

O risco de morte por pneumonia é maior nas crianças desnutridas, portadoras de doenças crônicas e que já chegam ao hospital com sinais de complicação, além disso influencia o baixo nível sócio econômico.

“As crianças morrem de pneumonia porque a elas são negados os benefícios da prevenção, diagnóstico acurado e tratamento”, ressalta a ONG Save the Children. Atualmente, cerca de 400 milhões de pessoas estão à margem dos sistemas de saúde, segundo a Save the Children. Por isso grande parte dos óbitos ocorre porque muitas crianças não chegam nem a se consultar com um profissional.

Um dos sintomas mais preocupantes é a hipoxemia, a insuficiência de oxigênio no sangue que pode afetar os órgãos. Há situações em que os pulmões precisam ser drenados para evitar complicações como choque, hipotensão, insuficiência respiratória, atelectasia (colapso completo ou parcial do pulmão) e infecção generalizada.

 

Em regiões carentes, a criança pode chegar ao pronto-socorro com um quadro avançado. O relatório da Save the Children diz que prestadores de serviço de saúde às vezes não têm treinamento adequado e encontram dificuldades para contar a frequência respiratória de um bebê. Além disso, a pele azulada, indicativo da falta de oxigênio, pode não ser detectada em crianças negras, ressalta o estudo.

Para alertar a população sobre essa patologia, tão comum nos meses do outono e do inverno, foi estabelecido, em 2009, o Dia Mundial da Pneumonia, em 12 de novembro. Entre as iniciativas, está a disseminação de informações sobre prevenção. A imunização é a mais importante. No Brasil, conforme o Ministério da Saúde, a vacina pneumocócica (contra pneumonia) conjugada foi introduzida no calendário básico de imunização infantil do Brasil para menores de dois anos em 2010.

Também deve-se evitar aglomerações, como levar bebês a shopping centers ou supermercados. Ter uma boa alimentação, deixar a casa arejada e lavar as mãos, principalmente quando já existe alguém da família doente, são outras atitudes preventivas essenciais.

G1 – RFI e Bem Estar