Evo Morales renuncia à presidência da Bolívia

Anúncio foi feito, em rede nacional, pela televisão. Vice-presidente, Álvaro García Linera, também deixa o cargo

Evo Morales renunciou neste domingo (10) ao cargo de presidente da Bolívia, após uma escalada nas tensões no país. O anúncio foi feito em rede nacional, pela televisão.

O vice-presidente, Álvaro García Linera, também apresentou a renúncia.

“Eu decidi, escutando meus companheiros, renunciar ao meu cargo da presidência”, ele disse.

Logo em seguida, ele ataca seus opositores Carlos Mesa e Luis Camacho.

“Por que tomei essa decisão? Para que Mesa e Camacho não sigam perseguindo meus irmãos dirigentes sindicais. Para que Mesa e Camacho não sigam queimando a casa dos governadores de Oruro e Chuquisaca.”

Ele ainda classificou a situação como um golpe:

“Lamento muito esse golpe cívico, e de alguns setores da polícia podem se juntar para atentar contra a democracia, contra a paz social com violência, com amedrontamento para intimidar o povo boliviano.”

Morales havia dito, mais cedo neste domingo, que convocaria novas eleições, após a Organização dos Estados Americanos, OEA, divulgar que as eleições de 20 de outubro haviam sido fraudadas.

Não está claro como vão acontecer as novas eleições e nem se ele mesmo será candidato. Mais cedo, ao anunciar a nova votação, ele disse que elas são importantes para que o povo boliviano possa eleger novas autoridades, “incorporando novos atores políticos”.

Opositores de Evo Morales comemoram renúncia do presidente neste domingo (10) nas ruas de La Paz — Foto: Juan Karita/AP

Opositores de Evo Morales comemoram renúncia do presidente neste domingo (10) nas ruas de La Paz — Foto: Juan Karita/AP

Pouco antes da renúncia, os chefes das Forças Armadas e da Polícia, além da oposição, haviam pedido que Evo Morales deixasse o cargo para “pacificar” o país.

Nas últimas horas, ao menos três ministros também entregaram seus cargos.

Eleições tumultuadas

Manifestantes tomam as ruas de La Paz para denunciar 'fraude eleitoral' nesta sexta-feira (25) após apuração indicar vitória de Evo Morales nas eleições presidenciais da Bolívia — Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters

Manifestantes tomam as ruas de La Paz para denunciar ‘fraude eleitoral’ nesta sexta-feira (25) após apuração indicar vitória de Evo Morales nas eleições presidenciais da Bolívia — Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters

A crise na Bolívia tomou maiores proporções após as eleições de 20 de outubro, quando Evo foi reeleito em primeiro turno.

Na época, o órgão responsável por computar os votos apontou o seguinte resultado final:

  • Evo Morales: 47,07% dos votos
  • Carlos Mesa: 36,51%

Como a diferença entre Morales e Mesa foi de mais de 10 pontos percentuais, o atual presidente foi reeleito para seu quarto mandato.

O resultado foi contestado pela oposição e, no dia 30 de outubro, a Bolívia e a OEA concordaram em realizar uma auditoria.

Antes desses números serem publicados houve uma indefinição: inicialmente, havia um método mais rápido e preliminar de apuração, e um outro, definitivo e mais lento, onde se conta voto a voto. Os números dessas duas contagens começaram a divergir, e a apuração mais rápida, que indicava que haveria um segundo turno, foi suspensa.

Desde que Evo ganhou, a oposição tem ido às ruas em protestos. A polícia parou de reprimir as manifestações, e houve motins em quartéis do país.

Na sexta (8) e no sábado (9) policiais bolivianos se amotinaram. O governo respondeu com um comunicado no qual denunciava um plano de golpe de estado.

Esta reportagem está em atualização.

G-1