Figueirão: Investidores são atraídos após prefeitura criar ‘mosaico do agronegócio’ e fazer raio-x de 605 fazendas em MS

O segundo município mais novo de Mato Grosso do Sul, com apenas 16 anos de emancipação e 3 mil habitantes, Figueirão, a 246 km de Campo Grande, desponta no cenário nacional quando o assunto é pecuária de corte. Agora quer se destacar também como uma referência no uso de tecnologias no campo. Para isso, criou um sistema de zoneamento agro econômico, que disponibiliza dados das 605 propriedades rurais localizadas em seu território.

Com esse “mosaico informatizado” foi possível a prefeitura traçar o perfil do agronegócio do município e suas potencialidades. Os dados revelaram, por exemplo, que 70% das propriedades rurais do município são voltadas para a criação de gado de corte. Um conjunto de fatores tem estimulado a atividade, como bom preço das áreas em relação a outras cidades do estado e do país, solos adequados ao desenvolvimento de pastagens e investimentos dos criadores no melhoramento genético dos rebanhos.

Figueirão se torna referência em criação de gado de corte no cenário nacional. — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação
Figueirão se torna referência em criação de gado de corte no cenário nacional. — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação

De acordo com Marcos Oliveira, chefe de divisão de Tecnologia da Informação da prefeitura, foi desenvolvido um mapa digitalizado de toda área rural do município. Uma equipe de topografia percorreu todas as fazendas e com as informações colhidas criou o sistema. A ferramenta une informações de GPS com dados das propriedades, o que possibilitou a elaboração de um panorama detalhado do agro no município, que incluí desde detalhes como pontes, porteiras e até trechos de estradas ruins.

Oliveira aponta que a potencialidade do município junto com essa gama de informações tem facilitado a tomada de decisão dos empreendedores do setor, estimulando novos investimentos em Figueirão.

O prefeito de Figueirão, Rogério Rosalin, diz que um indicador desses novos investimentos é o aumento da arrecadação do Imposto de Transferência de Bens e Imóveis (ITBI) que saltou de R$ 200 mil por ano para quase R$ 1 milhão. “Isso demonstra que está havendo mais procura”, comenta.

 Sistema de zoneamento agro econômico de todas as fazendas de Figueirão. Conforme órgão, 70% produzem gado de corte. — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação
Sistema de zoneamento agro econômico de todas as fazendas de Figueirão. Conforme órgão, 70% produzem gado de corte. — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação

A arquiteta e produtora rural Mônica Hoop Granieri, do estado de São Paulo, comprou nessa quarta-feira (30) uma fazenda com cerca de 1.200 hectares na região. Ela afirma que antes de investir, pesquisou sobre o município utilizando o sistema da prefeitura e que os dados disponíveis foram decisivos para fechar o negócio.

“Antes de chegar aqui [Figueirão], eu fui para vários estados do Brasil e até mesmo na Bolívia. Quando eu tive a oportunidade de saber tudo sobre a região por meio desse mapeamento, senti confiança e decidi bater o martelo. Aqui, é uma área promissora e já reconhecida por sua qualidade”, explicou ao G1.

Propriedade Rural de Mônica irá investir na produção de gado sustentável para venda de carne orgânica. — Foto: Mônica Hoop/Arquivo Pessoal
Propriedade Rural de Mônica irá investir na produção de gado sustentável para venda de carne orgânica. — Foto: Mônica Hoop/Arquivo Pessoal

Conforme Mônica, a possibilidade de trabalhar de forma online e a organização das propriedades rurais são diferenciais porque é possível saber o que se produz em cada uma delas. Ela diz que pretende implantar na região um projeto de pecuária sustentável, para a produção de carne orgânica. “Essa organização de sistema alinhada com o desejo de cada produtor de fazer o melhor me encantou”, destacou acrescentando ainda:

“A região é sadia, tem clima extremamente favorável para a criação de gado , a luminosidade aqui é fantástica, a água é limpa e tem aparentemente uma qualidade excepcional. Os animais criados são livres de doenças. Resumindo, a região é muito boa na conversão de peso dos animais”, reforça.

Mônica Hoop na entrada da nova fazenda localizada em Figueirão (MS). — Foto: Mônica Hoop/Arquivo Pessoal
Mônica Hoop na entrada da nova fazenda localizada em Figueirão (MS). — Foto: Mônica Hoop/Arquivo Pessoal

De acordo com a produtora, a tecnologia de monitoramento até contribui para evitar prejuízos e oferece segurança referente à área que foi comprada. “Por conta do mosaico online, na hora de fazer todo o processo no cartório, temos a exatidão de cada área e assim não corremos risco de termos problemas com escrituras, tomando ou perdendo terras das fazendas vizinhas”, finaliza.

Localização e condições propícias para criação de gado foram definitivas para Mônica investir na propriedade rural, em Figueirão. — Foto: Mônica Hoop/Arquivo Pessoal
Localização e condições propícias para criação de gado foram definitivas para Mônica investir na propriedade rural, em Figueirão. — Foto: Mônica Hoop/Arquivo Pessoal

Conforme a prefeitura, o projeto começou a ser desenvolvido em 2015 para descobrir a identidade econômica de Figueirão. O município tem uma área de 500 mil hectares. É o 23º lugar em área territorial que chega a 4.882.879 km² e tem um rebanho com cerca de 300 mil cabeças de gado.

“Precisávamos saber o que realmente produzimos e qual a nossa base econômica para atrair investidores e gerar emprego para a população. Nós não tínhamos uma identidade, mas hoje é possível confirmar que somos referência quando o assunto é qualidade em criação de gado de corte e produção de carne, tudo por meio desse sistema”, explica o prefeito.

Represa na propriedade rural de Mônica, em Figueirão (MS). — Foto: Mônica Hoop/Arquivo Pessoal
Represa na propriedade rural de Mônica, em Figueirão (MS). — Foto: Mônica Hoop/Arquivo Pessoal

Rosalin conta que de início, no desenvolvimento do sistema, a ideia era apenas saber a quilometragem das estradas vicinais que cortam o município para que quando houvesse algum problema nas vias, o reparo fosse feito de imediato.

“A partir desse momento começamos a avançar para dentro das propriedades rurais. Identificamos cada uma delas e com informações básicas já era possível saber os proprietários, se era arrendada ou não, área e agora sua produção”, explica Rosalin.

Para o desenvolvimento do projeto, a prefeitura foi atrás de parcerias com órgãos como o Incra que cedeu o Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades. Isso possibilitou montar o mosaico que apresentou as 605 propriedades: “Isso foi um grande avanço, pois conseguimos até identificar a parte de estrutura das casas dessas fazendas, por meio de uma planta baixa”, afirma.

Benefícios

De acordo com a prefeitura, o benefício direto foi uma melhor organização da administração pública, ou seja, potencializou a gestão por meio dos dados. Como essa fundamentação, o marketing do município foi intensificado e aliado a fama que a região tem de excelência na produção de gado, investidores foram atraídos também pelas terras com valores mais acessíveis.

Figueirão recebe novos investidores após sistema de monitoramento de fazendas. — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação
Figueirão recebe novos investidores após sistema de monitoramento de fazendas. — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação

“Um dos benefícios diretos é o incremento na comercialização de terras no município. Muitos investidores nos procuram para conhecer mais sobre nossa região e quando enviamos nosso conteúdo, sempre são fechados bons negócios”, explica

O proprietário rural e engenheiro agrônomo Thiago Corazza, investe na região desde 1988 quando tinha apenas 17 anos. Hoje, com uma propriedade que se tornou referência na produção de carne de qualidade, inclusive com venda no mercado internacional, ele ressalta que os bons resultados chegaram após os investimentos no melhoramento genético do rebanho.

Fazenda Ventura é referência na produção de gado de corte e em carne de qualidade, em Figueirão (MS). — Foto: Thiago Corazza/Arquivo pessoal
Fazenda Ventura é referência na produção de gado de corte e em carne de qualidade, em Figueirão (MS). — Foto: Thiago Corazza/Arquivo pessoal

Corazza reforça que o sistema de monitoramento das propriedades tem sido um importante instrumento para que potenciais investidores conheçam mais a região. “Eu percebo que com esses dados é possível fecharmos bons negócios. No nosso caso, já existem grupos interessados em fechar parcerias. Esse panorama que é muito viável, aliado as questões favoráveis para a criação de gado, tem feito da região um excelente local de investimentos”.

Com uma propriedade com cerca de 11 mil hectares no município e que faz o ciclo completo com cria, recria, engorda e confinamento, o criador explica que começou a desenvolver um programa de melhoramento genético da raça nelore em 1997 e, dois anos depois, o projeto possibilitou a exportação da carne dos animais criados na fazenda.

A propriedade é homologada pela Comunidade Europeia e a excelência de sua produção fez com que fosse inserida na Cota Hilton, a parcela de carnes de alta qualidade que são exportadas pelo Brasil para o bloco. “Nós atingimos a ponta da pirâmide da cota para a exportação e de cinco anos para cá, começamos a fornecer para restaurantes de algumas capitais do Brasil”, explicou ao G1.

Qualidade da carne é produzida no padrão da Cota Hilton, que é o controle da qualidade da carne exportada para Europa. — Foto: Thiago Corazza/Arquivo pessoal
Qualidade da carne é produzida no padrão da Cota Hilton, que é o controle da qualidade da carne exportada para Europa. — Foto: Thiago Corazza/Arquivo pessoal

De acordo com Corazza, nos últimos anos o produto [carne] é principalmente fornecido para marcas de carnes e restaurantes para quatro grandes centros do país: São Paulo (que representa 85% do mercado), Rio de Janeiro, Minhas Gerais e Brasília (que ficam com os outros 15%).

“Para entrar nesse mercado a gente sempre tem que adequar a ele. E isso exige desde o tipo de raça até a alimentação, característica como peso final, capa de gordura que é o acabamento da carcaça”, explica.

Conforme o engenheiro agrônomo, além da genética bovina, o manejo e manutenção de pastagens são pontos importantes para alcançar excelentes resultados.

 Manejo e manutenção de pastagens são pontos importantes para alcançar excelentes resultados. — Foto: Thiago Corazza/Arquivo pessoal
Manejo e manutenção de pastagens são pontos importantes para alcançar excelentes resultados. — Foto: Thiago Corazza/Arquivo pessoal

Estrutura

Conforme a prefeitura, a estrutura também tem sido essencial para contribuir com a produção após a implantação do sistema de zoneamento agro econômico. De forma precisa, se sabe a quilometragem de todas as vias que cortam o município. Com isso é possível trabalhar de forma eficiente na manutenção dessas vias e quando alguém aciona a equipe de obras, o órgão tem com exatidão o ponto que precisa de reparo.

Fazendas são mapeadas e dados ajudam a traçar perfil do agronegócio em Figueirão (MS). — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação
Fazendas são mapeadas e dados ajudam a traçar perfil do agronegócio em Figueirão (MS). — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação

Por meio dos dados foram identificados 1.700 km de estradas, com 124 pontes e mais de 300 mata burros. Tudo foi feito com uma equipe de engenheiros com o uso do GPS e um levantamento fotográfico.

Segundo a prefeitura, a rodovia MS-223 que está sendo asfaltada e que liga o município de Figueirão até Costa Rica, vai possibilitar a expansão do mercado local para o estado de São Paulo. Os produtores estão animados com uma via de acesso rápido que facilitará o escoamento da produção do município.

 Obras de pavimentação asfáltica da MS-223, entre os municípios de Figueirão e Costa Rica, facilitará exportação de gado. — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação
Obras de pavimentação asfáltica da MS-223, entre os municípios de Figueirão e Costa Rica, facilitará exportação de gado. — Foto: Prefeitura de Figueirão/Divulgação

De acordo com o governo do estado, a pavimentação de 61 quilômetros da via, é uma obra de grande relevância para a região nordeste de Mato Grosso do Sul. Vai transformar a via em um corredor de produção e reduzir em 80 quilômetros a distância até Campo Grande. A primeira etapa do projeto prevê o asfaltamento de 32,5 quilômetros dentro dos limites de Costa Rica.

Chegada da infraestrutura vai mudar o perfil econômico da região, segundo Governo de MS. — Foto: Governo de Mato Grosso do Sul/Divulgação
Chegada da infraestrutura vai mudar o perfil econômico da região, segundo Governo de MS. — Foto: Governo de Mato Grosso do Sul/Divulgação

Por Flávio Dias, G1 MS — Campo Grande