“Hoje, o que eu quero de verdade é que aconteça para todas as pessoas que passam por isso o que aconteceu com a gente”. Este é o sentimento de Rosemary Castro, mulher de Vamberto Luiz de Castro, de 64 anos.
O funcionário público aposentado é o paciente que está “virtualmente” curado após apresentar melhoras com um tratamento inédito na América Latina, baseado em uma técnica de terapia genética descoberta no exterior e conhecida como CART-Cell. Vamberto estava em fase terminal de um linfoma nos ossos.
O casal e o filho chegaram em Belo Horizonte neste domingo (13), após ficaram 40 dias no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP). O Fantástico acompanhou a saída do casal do hospital.
“Deram alta mais rápido do que a gente esperava e ainda conseguimos um voo para mais cedo”, contou Rosemary.
Rosemary disse, nesta segunda-feira (14), que Vamberto se recupera em casa e “está muito bem”. Como perdeu bastante peso e ficou deitado muitos dias, a partir de agora ele terá que fazer a recuperação do peso e exercícios de fisioterapia para a mobilidade voltar ao normal.
A mulher dele contou que o filho descobriu que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estavam trazendo para o Brasil a terapia genética descoberta no exterior.
“Era o único lugar que tinha esse tratamento. Foi tudo pelo SUS. E tivemos a sorte de ele ter todas as características para fazer o tratamento”, disse Rosemary.
Muito alegre e aliviada, a mulher falou sobre a importância de o governo incentivar esse tipo de pesquisa para que mais pessoas também tenham a oportunidade de cura.
“Todo mundo merece essa chance que a gente teve”, completou.
O casal tem, além do filho, uma filha e um neto. E agora, com a família completa e reunida novamente em casa, Rosemary espera que a recuperação do marido seja ainda mais rápida.
Conquista da ciência brasileira reverte quadro de paciente com câncer agressivo
O tratamento
Imagens de exames realizados pela equipe de médicos mostram e evolução do tratamento. Há um mês, o corpo do paciente estava tomado por tumores. Para receber a alta, novos exames mostraram que a maioria deles desapareceu.
O médico Renato Cunha, um dos responsáveis pela terapia, confirmou ao G1 que Castro saiu do hospital no final de semana e que já voltou para Belo Horizonte. O aposentado de 64 anos deverá ser acompanhado por cinco anos até poder ser considerado curado da doença.
Entenda o tratamento em 7 pontos:
- Em 9 de setembro, Vamberto foi hospitalizado; apresentava quadro de linfoma em fase terminal
- Tratamento com base em técnica CART-Cell nunca tinha sido feito no Brasil
- Técnica modifica células para combater tumores
- Custo do tratamento nos EUA chega a US$ 475 mil
- Em pouco mais de um mês paciente apresentou remissão da doença
- Será acompanhado durante 5 anos até o diagnóstico de cura
- Técnica foi desenvolvida no Brasil com financiamento público
Os médicos e pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC-Fapesp-USP) do Hemocentro, ligado ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, apontam que o paciente está “virtualmente” livre da doença.
Os pesquisadores da USP – apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) – desenvolveram um procedimento próprio de aplicação da técnica CART-Cell.
Perspectivas para o SUS
Dimas Tadeu Covas, que coordena o Centro de Terapia Celular do HC de Ribeirão, disse que o procedimento poderá ser reproduzido em outros centros de excelência do país, mas não dá datas. Isso porque, segundo ele, depende de laboratórios controlados com infraestrutura adequada.
“Devido à complexidade do tratamento, ele também só pode ser feito em unidades hospitalares com experiência em transplante de medula óssea”, disse o pesquisador. “Isso porque, durante o processo, a imunidade é comprometida. O paciente tem que ficar isolado, não pode ficar exposto. Não são todos os hospitais que podem fazer esse tipo de tratamento. Além disso a terapia tem efeitos colaterais.”
A resposta imune progressiva pode causar febres altas, náuseas e dores musculares. Os pesquisadores não eliminam o risco de morte, e reconhecem que a forte baixa no sistema imunológico traz um potencial fatal para alguns pacientes
Por Cíntia Paes, G1 Minas