Além de ser padre, Osvaldo Palópito era coronel militar em São Paulo. Escutas mostram ele xingando mulheres e falando dos desvios de dinheiro.
Escutas telefônicas revelam detalhes de conversas de um padre coronel acusado de desviar milhões de uma igreja militar em São Paulo.
O nome do padre é Osvaldo Palópito. Em 1989, ele prestou concurso para a PM e, até o ano passado, comandou a Capela Militar de Santo Expedito, em São Paulo. Ele acumulava o cargo de coronel e rezava missas.
Segundo o Ministério Público Militar, Palópito teria desviado cerca de R$ 2 milhões doados por fiéis à igreja.
O dinheiro teria sido usado para comprar imóveis, entre eles uma cobertura em um condomínio de luxo no litoral de São Paulo. Por essa suspeita, o padre foi preso em maio deste ano, mas saiu da cadeia no mês passado e vai responder ao processo em liberdade.
Padre: Tem apê ainda de 750 paus.
Amigo: 750 só? É hora de comprar pra se vender por 3 milhões. A minha vontade é vender a cobertura aqui e comprar uns quatro lá.
“Tinha um salário razoável, mas que não lhe permitiria ter uma cobertura avaliada em mais de R$ 2 milhões, vários carros, imóveis, apartamentos”, explica Marcelo Alexandre de Oliveira, promotor de Justiça Militar.
Uma testemunha que trabalhava na igreja contou que existia uma conta secreta usada para desviar o dinheiro.
Padre: Porque essa outra receita ia para o coronel.
Juiz: O senhor ia pessoalmente na boca do caixa?
Padre: Isso.
Juiz: O senhor ia quantas vezes por semana?
Padre: Vamos colocar, assim, diariamente.
Juiz: E as quantias eram determinadas ou eram variadas?
Padre: Eram variadas.
À Justiça Militar, o padre negou as acusações.
“Ele pode falar o que ele quiser. Tenho plena consciência de que nunca precisei de um centavo da igreja. Pelo contrário, quando pude ajudar, eu ajudei. Meu patrimônio não chega a metade do que eu ganhei trabalhando na polícia”, alega o padre Osvaldo Palópito.
O padre rezava missa na Capela de Santo Expedito toda semana, mas o comportamento dele fora da igreja era bem diferente do que ele pregava para os fiéis.
Padre: É maldita, é maldita. É horrorosa, ela é feia. Eu falei para ela: fala para as suas filhas ‘dar’ em cima de mim, não você que é horrorosa. Lembra disso?
Amiga: Eu lembro.
Esse é um trecho de uma ligação telefônica entre o padre coronel e uma amiga. Ela conta o que ouviu de outra mulher.
Padre: O que ela falou?
Amiga: Falou para mim que o senhor que agarrou ela e jogou na mesa.
Padre: Filha da puta. Filha da puta. Ela me agarrou. Eu falei: a sua filha, sim, é uma gracinha. Fala para ela ficar nua perto de mim, não você”, diz padre em ligação telefônica.
“Eu tenho uma carreira na igreja. Nunca ia macular a igreja e nunca ia macular o nome da Polícia Militar”, diz o padre.
“Não é o comportamento que se espera de um padre como não é o comportamento que se espera de um comandante de uma unidade da Polícia Militar”, pontua o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira.
O advogado do padre Osvaldo diz que o cliente é inocente. Quanto ao comportamento em relação a mulheres, ele afirmou que isso não é alvo do inquérito militar.
Em nota, o Ministério da Defesa, responsável pela capela militar, disse que vai analisar o caso, de acordo com as normas da igreja e que as conclusões serão enviadas ao Vaticano.
A Polícia Militar de São Paulo abriu processo administrativo que pode resultar na expulsão do padre.