Coluna Percival: Por que Bolsonaro incomoda tanta gente?

Há várias décadas, os presidentes têm usado o aparelho de Estado

para atrair partidos à sua base, mantendo-lhes o metabolismo que processa,

ingere e digere recursos públicos. O resultado mediu-se em corrupção,

delações premiadas, fortunas acumuladas no Exterior, democracia fraudada

e cadeia para muitos. O combate a esse mecanismo esteve entre as quatro

turbinas propulsoras das vitórias eleitorais de 2018: combate à corrupção,

desenvolvimento econômico, segurança pública e retomada dos valores

tradicionais. E o Presidente, na percepção de muitos, comete dois erros

imperdoáveis: não abre mão dessas plataformas e frustra as expectativas

dos que – urbi et orbi – anunciavam seu governo como uma Caixa de

Pandora, repleta de perversidades.

Também por isso insisto na necessidade de uma reforma política que

enfrente esse desajuste estrutural das nossas instituições. Se separasse

governo, Estado e administração, uma boa reforma eliminaria a apropriação

partidária do Estado e da administração pelo governo (a economia para a

nação seria imensa e o país despencaria no ranking da corrupção). Se

adotasse voto majoritário para os parlamentos, com eleição distrital, por

exemplo, o número de partidos passaria a ser contado nos dedos da mão,

com ganho de operacionalidade para o sistema político, maiorias mais

facilmente componíveis e enorme redução dos custos financeiros da

democracia.

No modelo que se tornou vigente no Brasil, a mais numerosa força

oposicionista vem daqueles que não conseguem viver sem abocanhar uma

fatia do Estado.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,

empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais

e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;

Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.