Sem dinheiro para concluir obras de recapeamento de avenidas como Calógeras, Mascarenhas de Moraes, Manoel da Costa Lima e outras tantas com intenso movimento, a prefeitura de Campo Grande destinou nos últimos três anos perto de R$ 100 milhões à pavimentação de vias que literalmente passam no meio de pastagens e plantações de soja, nos fundos do aeroporto de Campo Grande, na região do Bairro Nova Campo Grande.
O dinheiro da maior obra da bolsonarista Adrieane Lopes na Capital é praticamente todo procedente do Governo Federal, por meio das chamadas emendas parlamentares.
O curioso é que estes investimentos levaram asfalto para uma série de propriedades rurais de Glaucos da Costamarques e José Carlos Bumlai, além de outros três proprietários da região.
O primeiro é vizinho e o segundo é amigo do presidente Lula. Durante a operação Lava Jato, em 2015, o pecuarista Glaucos, que no último dia 25 completou 85 anos, apareceu amplamente na mídia nacional por ser vizinho de porta de Luiz Inácio Lula da Silva.
À época, Lula morava no apartamento 122 do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo. Ele também ocupava o apartamento de número 121, como uma espécie de depósito, embora não aparecesse em seu nome.
Os procuradores do Ministério Público Federal que comandavam a Lava Jato concluíram que ele teria recebido o imóvel como propina paga pela Odebrecht.
Foi aí que apareceu o nome de Glaucos Costamarques como sendo o proprietário deste imóvel. Ele alegou que alugava o apartamento para Lula e sua família e que havia comprado o imóvel para fazer um investimento, a única propriedade dele fora de Campo Grande.
Segundo a investigação da época, Glaucos apareceu na trama por ser primo de José Carlos Bumlai, que por sua vez era amigo pessoal de Lula e tinha até livre acesso ao Palácio do Planalto durante os dois primeiros mandatos do atual mandatário do Brasil. Bumlai chegou a ser preso e condenado a quase dez anos de prisão pelo então juiz Sérgio Moro por conta de suposta lavagem de dinheiro.
GUINADA
Agora, anos depois, recursos federais de R$ 84,6 milhões, sem contabilizar os aditivos feitos nos contratos originais, estão sendo destinados à pavimentação da Avenida Wilson Paes de Barros e uma nova via que foi aberta no meio de pastagens que ainda nem foi oficialmente “batizada” na região oeste de Campo Grande.
A avenida Wilson de Paes começa na Duque de Caxias, margeia o aeroporto de Campo Grande, se estende por cerca de cinco quilômetros e chega até a região do Bairro Santa Emília. Parte dela é duplicada e está equipada com calçadas e uma ampla ciclovia.
Até piscinões com capacidade para 90 milhões de litros foram construídos para conter a enxurrada numa região onde praticamente não existe declive. Prova disso é que o aeroporto existe no local há 71 anos.
Porém, além de alguns carros, motos e raros ciclistas que já descobriram a nova opção acesso entre uma região da cidade e outra, o único movimento que se vê é de bovinos nas pastagens e trabalhadores em meio a uma produtiva plantação de soja.
Tráfego de veículos ainda é baixo ao longo da avenida que margeia a lavoura de soja
Glaucos da Costamarques tem quatro propriedades que margeiam a nova avenida. Juntas, somam em torno de 180 hectares, área suficiente para cerca de 3,5 mil terrenos de 360 metros quadrados cada (12 por 30).
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Embora localizadas em área urbana, a justiça lhe garantiu isenção de IPTU, uma vez que recolhe ITR, que é o imposto sobre imóvel rural, com valor muito menor.
Ele recorreu à Justiça e conseguiu se livrar da cobrança de R$ 1.289.467,82 sobre uma das chácaras, de 75 hectares. De outra delas, esta com 81,5 hectares, conseguiu escapar de cobrança de R$ 1.188.775,68.
A administração municipal entendia que ele deveria pagar IPTU, mas ao comprovar a criação e venda de gado no local, foi isento pelo Judiciário. Agora, o município aind deve ser obrigado a pagar as custas processuais aos advogados que defenderam o vizinho de Lula.
Tem ainda uma quinta propriedade da família de Glaucos, registrada em nome de sua esposa, Regina Bruno Costamarques, que também está sendo indiretamente beneficiada pelo novo asfalto.
Ponte inacabada é um dos poucos itens que falta para conclusão da obra
Neste caso, porém, a benfeitoria não é limítrofe ao imóvel com cerca de 30 hectares. Este fica na margem direita do Córrego Imbirussu, nas imediações do Núcleo Industrial.
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E, além do vizinho, o amigo de Lula, o também pecuarista José Carlos Bumlai, tem propriedade na região que também está sendo indiretamente beneficiada pela obra, que está praticamente pronta, faltando somente a conclusão de uma ponte sobre o Córrego Imbirussu.
Esta chácara, que tem em torno de 80 hectares, porém, também não está às margens da nova avenida. Porém, a partir do momento em que chegarem as redes de água e energia, acompanhados dos loteamentos, as terras todas passarão a ter outro patamar de preço.
REGIÃO DE DESOVA
Antes dos investimentos, a estrada que hoje virou a suntuosa Avenida Wilson Paes de Barros era sinônimo de descarte irregular de lixo e de cadáveres humanos. No dia 24 de julho de 2023, por exemplo, dois corpos carbonizados foram encontrados no interior de um Ford Fiesta destruído pelas chamas. A investigação apontou que foram vítimas de guerra de traficantes.
A maior parte das vias já está sinalizada e liberada ao tráfego de veículos. Uma parte, porém, aquela que liga a região do São Conrado ao Núcleo Industrial, segue interditada e virou palco para manobras radicais de motociclistas, conforme evidenciam as marcas de pneus no asfalto.
PROJETO AMPLO
A licitação para as obras foi concluída em agosto de 2022, quando Jair Bolsonaro ainda estava na presidência. O vencedor foi uma empreiteira do Espírito Santo, Engevil. Em Campo Grande, o comando do Executivo já estava nas mãos da bolsonarista Adriane Lopes quando as obras começaram.
A justificativa da administração municipal para fazer o megainvestimento no meio de lavouras e pastagens é de que se trata de implantação de vias estruturantes. Do projeto também fazem parte a pavimentação, drenagem e recapeamento de ruas nos bairros Nova Campo Grande e Jardim Carioca.
Poucos campo-grandenses descobriam a nova avenida na região oeste da cidade
Além da ponte que está inacabada, os investimentos contemplaram inicialmente uma primeira ponte sobre o Imbirussu, ligando o Jardim Carioca ao Núcleo Industrial. Antes existia somente uma passarela improvisada, que não permitia a passagem de carros.
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No total, são 13,3 quilômetros de asfalto, 15,2 quilômetros de drenagem e 11,6 quilômetros de ciclovia. Além disso, três piscinões para armazenar água da chuva. Por ser uma região muito plana e de lençol freático raso, vários trechos da ciclovia ficam submersos mesmo vários dias depois da chuva.
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