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Lu parecia saber seu tempo de vida e escolheu partir no campo que lutou

O dia 19 de janeiro de 2025 trouxe luto para aqueles que conheceram Lucinéia Santos de Oliveira, ou Lu Santos, como era carinhosamente chamada. Aos 31 anos, a missionária que se dedicou incansavelmente ao trabalho humanitário na África, faleceu em Huambo, Angola, após ter malária pela segunda vez. Sua morte, embora trágica, não apagará a chama de sua missão. Isso é o que expressa a família, que decidiu respeitar o pedido dela feito em vida, ser sepultada no campo onde sempre lutou: a África.

A história de Lucinéia começa ainda na infância, em Chapadão do Sul (MS), onde, desde pequena, ela demonstrava desejo de ajudar os outros. “Ela sempre dizia que ia embora, pegava sua mochilinha e dizia ‘tô indo’, como se já soubesse, lá no fundo, que um dia seria missionária”, lembra a irmã Valtenéia de Oliveira dos Reis, conhecida como Ray, com quem compartilhou uma vida de cumplicidade e amor. Essa frase, repetida tantas vezes na infância, se tornou uma profecia: Lu realmente partiu, mas para um destino muito maior do que qualquer um poderia imaginar.

Quando ainda era jovem, Lucinéia iniciou sua trajetória no voluntariado, primeiro em um projeto escolar, depois na Câmara Municipal e, por fim, ao se envolver com a Jocum (Jovens Com Uma Missão), uma organização que a levou para longe, para trabalhar por um mundo melhor. “Ela não hesitou. Abandonou tudo o que conhecia para se dedicar ao que mais amava: ajudar a humanidade”, conta Ray, emocionada.

Lu parecia saber seu tempo de vida e escolheu partir no campo que lutou
Ela ficou em Huambo por 10 anos, combatendo a malária, construindo escolas, ajudando a cuidar de crianças e adultos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Lucinéia esteve presente em diversas missões humanitárias ao longo de sua vida. Trabalhou com refugiados sírios na Turquia, prestou apoio às vítimas de enchentes no Brasil e dedicou-se às comunidades carentes no sertão. Mas seu coração estava, sem dúvida, na África. “A África era o coração dela”, diz Gabriel Schultz, coordenador da Cruz Vermelha em Chapadão do Sul. “Ela respirava África, e sempre realizava seu trabalho com tanto amor e propósito, que se tornava impossível não se apaixonar pelo que ela fazia. Ela lutou até o fim, no campo que ela tanto amava.”

Ela ficou em Huambo por 10 anos, combatendo a malária, construindo escolas, ajudando a cuidar de crianças e adultos, levando assistência médica e espiritual. Sua paixão pelo próximo era incansável. “Ela chegava, ficava com a família, e já queria voltar para seu trabalho”, lembra Ray, que sempre a recebeu com carinho e amor durante suas breves visitas ao Brasil.

Lu parecia saber seu tempo de vida e escolheu partir no campo que lutou
Aos 31 anos, a missionária que se dedicou incansavelmente ao trabalho humanitário na África, faleceu em Huambo, Angola.

Mesmo distante, Lucinéia manteve vínculo forte com sua família, especialmente com sua irmã, com quem compartilhava um ritual de carinho: todos os dias, elas se falavam e trocavam um “eu te amo”. Mas, há quatro dias, esse “eu te amo” não chegou. “Foi uma das piores sensações da minha vida”, revela Ray, com o coração apertado.

O trabalho de Lucinéia não se limitava a sua atuação como missionária, mas também como profissional. Formada em Administração e Jornalismo, ela usou suas habilidades para ajudar a comunidade, com destaque para seu trabalho na rádio e em iniciativas políticas voltadas para o bem-estar social. Sua vida, no entanto, sempre foi guiada por outro propósito: servir ao próximo.

Lu parecia saber seu tempo de vida e escolheu partir no campo que lutou
Em pé, estão Ray, a irmã Lucinéia, juntas ao lado dos pais (Foto: Arquivo Pessoal)

O falecimento da missionária foi uma perda, mas o amigo prefere ficar com as lições deixadas por ela. “Não é uma tristeza pelo que ela fez, mas pela saudade que ela deixa”, disse Gabriel. “Hoje, todos nós estamos de luto, mas também estamos gratos. Ela se foi, mas o que ela construiu, o que ela inspirou, vai viver para sempre”.

A irmã expressa, com dor e gratidão: “Mesmo em sua morte, ela me ensinou mais uma vez. Ela é minha maior inspiração. Hoje, meu coração dói, mas não por tristeza, mas pela saudade e pela gratidão. Lu foi a minha caçulinha, mas também a minha maior professora. Tudo o que vivemos foi com um propósito.”

Sepultamento na África

A última vontade de Lucinéia será cumprida: ela será sepultada na África, no lugar que escolheu como sua casa. “Ela nos pediu pessoalmente para ser sepultada lá, e nós vamos honrar esse desejo”, afirma Ray.

O sepultamento de Lucinéia será no dia 22 de janeiro, em Huambo,  com transmissão via satélite a partir das 5h30min (horário de Mato Grosso do Sul). O culto de despedida será realizado na igreja onde ela missionava, e seu corpo será levado em cortejo pelas ruas da cidade até o Cemitério São Pedro.

Para o amigo, o pedido de Lucinéia de ser sepultada na África reflete a grandeza de sua entrega à causa humanitária. “Ela estava em campo, lutando até o fim. E morreu feliz, no lugar que mais amava”, finaliza Gabriel.

Lu parecia saber seu tempo de vida e escolheu partir no campo que lutou
Segundo a irmã e o amigo de Lucineia, a África era o coração dela.
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