Pelo menos cinco ex-internos da Comunidade Terapêutica Filhos de Maria, de Campo Grande, foram encontrados na rua pedindo ajuda para voltar para casa, após o local passar por inspeção federal na sexta-feira (26).
Alvo de denúncias de cárcere privado, lesão corporal e sequestro, a clínica deixou os portões abertos após a visita de agentes federais do MNPCT (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura) e os pacientes “jogados na rua que nem cachorros”, segundo Rubens Gauto, que é padastro de um deles.
“Quero ir embora, preciso ir embora desse inferno. Os caras me ‘grudou’ no mato, deram um mata-leão”, relatou em vídeo o enteado, que tem 20 anos e é dependente químico. Ele e outros três internos pediram ajuda a um motorista que passava próximo ao local.
Alta sem aviso – Mãe do jovem e esposa de Rubens, a empregada doméstica Rosilene Ferreira Ramirez contou hoje (27) não ter sido avisada pela clínica sobre a inspeção e nem sobre o filho estar na rua.
“Ligamos, mas ninguém atendeu. Fomos avisados só depois. Daí mais tarde veio um textão contando o que tinha acontecido. Disseram que estavam sem acesso ao telefone e não podiam avisar”, diz a mulher.
Rubens e Rosilene encontraram o filho e os outros três internos na BR-262, na região da Chácara dos Poderes, onde fica a comunidade terapêutica. Eles disseram ter conseguido uma carona até lá.
“Acolhemos os três também, porque não tinham para onde ir e estavam debaixo do sol forte. Vieram para casa e emprestamos o telefone para avisarem as famílias deles. Um deles ficou mais tempo porque era de Chapadão do Sul e teve que esperar ter passagem de ônibus para voltar”, continua a mãe.
Na casa da família, o jovem de 20 anos relatou que foi “agredido e dopado por três dias”, afirma Rosilene. Ela pretende questionar a clínica sobre o ocorrido quando for buscar os pertences do filho, na próxima segunda-feira (28).
Além dos quatro internos, um quinto paciente cadeirante saiu do local no mesmo dia e foi filmado dizendo que precisava ir até a rodovia pedir dinheiro para comprar passagens para Sidrolândia, onde mora. “Não deram nenhum apoio […]. Disseram que quem quisesse sair, que podia sair”, falou.
A reportagem tentou contato para ouvir a Comunidade Terapêutica Filhos de Maria novamente nesta manhã (27), mas não teve sucesso. O espaço segue aberto para manifestação. – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS