A médica Cláudia Soares Alves, de 42 anos, suspeita de sequestrar uma recém-nascida em um hospital de Uberlândia (MG), é diagnosticada com transtorno afetivo bipolar, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno do pânico, conforme um laudo médico divulgado por sua defesa. De acordo com o laudo, a paciente tem crises recorrentes que prejudicam seu juízo crítico e a compreensão de suas atitudes.
“A paciente apresenta crises recorrentes de humor deprimido, anedonia, desânimo, irritabilidade, insônia e ideação suicida, alternadas por crises recorrentes de elevação de humor, grandiosidade, persecutoriedade, aumento de atividades, o que prejudica gravemente seu juízo crítico da realidade e a incapacita temporariamente de compreender a natureza inadequada e/ou ilícita de atitudes suas”, detalhou o laudo.
Claudia está presa na Unidade Prisional Regional Feminina de Orizona e a bebê resgatada está com os pais. Segundo o laudo, a paciente está em tratamento psiquiátrico desde 22 de março de 2022 e sua última consulta foi feita em 6 de dezembro de 2023. Conforme descrito no laudo, ela toma seis remédios controlados.
Por mensagem enviada nesta quinta-feira (25), o g1 tentou contato com o consultório onde a defesa obteve o laudo médico, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Por ligação na última quarta-feira (24), o advogado Vladimir Rezende disse ao g1 que Cláudia está grávida, mas a Polícia Civil diz que é mentira. O advogado também explicou que a médica faz acompanhamento psiquiátrico há alguns meses por conta da morte da mãe e toma medicamentos controlados. Para a defesa, por conta da suposta gravidez, Cláudia precisou mudar a medicação e teve um surto.
Segundo a polícia, a recém-nascida foi sequestrada na maternidade do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, na noite de terça-feira (23). Na manhã de quarta (24), a médica foi presa no Jardim Morumbi, em Itumbiara, quando chegava em casa.
Prisão
Cláudia foi autuada em flagrante por sequestro qualificado e, no momento em que era levada para a delegacia, justificou que está doente e faz uso de remédio controlado. Em depoimento, oficialmente, ela ficou em silêncio.
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) disse que iniciou uma apuração interna sobre as circunstâncias e colabora com a investigação da polícia. Segundo o hospital, a médica usou o crachá da universidade, que também informou estar apurando a responsabilidade e que adotará “as tratativas cabíveis”.
Gravidez da médica
Por ligação, o advogado Vladimir Rezende disse ao g1 que Cláudia está grávida. Segundo ele, a médica teve sangramentos no momento da prisão.
“Ela (a médica) está fazendo exames, porque está com sangramentos, uma suspeita de que está abortando”, afirmou o advogado Vladimir Rezende.
Cláudia passou por exame de corpo de delito no Hospital Municipal Modesto de Carvalho. O delegado Anderson Pelágio diz que, durante o procedimento, os médicos descartaram a gravidez.
O advogado não informou o sexo do bebê que Cláudia espera e nem de quantas semanas ela está grávida.
Sequestro de bebê
A bebê nasceu por volta das 20h, de cesárea. O pai, o motorista Édson Ferreira, contou como foi a ação: “Ela era muito bem articulada. Entrou, mexeu nos peitos da minha esposa para ver se tinha leite. Disse que era pediatra e que ia levar a bebê para se alimentar. Minutos depois, eu vi que a minha menina não voltava, e aí percebemos que ela tinha sido levada”, contou.
Segundo a Polícia Civil, a médica se aproveitou do fato de ser concursada no hospital, apresentou o crachá e entrou. Com isso, se apresentou como pediatra aos pais e pegou a bebê, que tinha nascido havia apenas três horas.
A mulher saiu da porta do hospital com a bebê e fugiu em um carro vermelho. Segundo a polícia, quando os pais notaram a demora da recém-nascida ser devolvida à mãe, o sistema de segurança do hospital foi acionado, mas a médica já havia fugido.
Um vídeo mostra a ação da mulher , do momento em que ela chega ao hospital com roupa de profissional de saúde e máscara cobrindo o rosto até a sua saída, carregando a criança.
Entenda ponto a ponto do vídeo que mostra a ação da mulher:
- Câmeras registraram o momento em que a falsa pediatra chegou de carro em frente ao HC-UFU, às 23h18;
- Ela desce do veículo usando jaleco, touca, máscara, luvas de borracha e uma mochila amarela nas costas;
- A mulher caminha até o hospital e retorna 37 minutos depois;
- Às 23h55, a falsa pediatra passa novamente pelas câmeras de monitoramento, já carregando a recém-nascida em um dos braços;
- Ela entra pelo banco do motorista e sai logo em seguida.
Mais detalhes da prisão
De acordo com o delegado Anderson Pelágio, assim que a Polícia Civil de Goiás recebeu as informações preliminares sobre o sequestro, identificou o endereço da suspeita e foi até a casa dela. Lá, encontraram a empregada doméstica cuidando da recém-nascida, já que a médica não estava em casa.
Parte da equipe resgatou a bebê e a levou imediatamente ao hospital. “Nós já conseguimos recuperar essa vítima, levá-la até o hospital aqui da cidade para ver as condições físicas dela, até porque há poucas horas ela havia nascido”, explicou o delegado.
Enquanto isso, uma outra parte da equipe continuou na casa de Cláudia, aguardando ela chegar. Assim que ela retornou, os policiais conseguiram abordá-la e efetuaram a prisão em flagrante pelo crime de sequestro qualificado.
“Formalmente, ela ficou em silêncio no interrogatório. Mas para os policiais aqui, informalmente, disse que teria tomado uma medicação e que entrou num surto e que, com esse surto, ela resolveu sequestrar a criança”, afirmou o delegado.
Mas, para Anderson Pelágio, a versão da médica não é verdadeira, pois o enxoval e toda a ação dela para sequestrar a recém-nascida indicam que o crime foi premeditado.
Nota da HC-UFU
O HC-UFU informa que por volta da meia-noite uma mulher trajada como profissional de saúde, portando crachá da Universidade, entrou na maternidade e evadiu com um bebê recém-nascido do sexo feminino.
Poucos instantes após o fato, a equipe do hospital acionou a Polícia Militar de Uberlândia e cedeu as imagens das câmeras de segurança requisitadas pela corporação.
O HC já iniciou apuração interna de todas as circunstâncias do caso e está colaborando com as investigações. A instituição está à inteira disposição das autoridades e da família para a breve solução do caso.