Com a bandeira do Brasil na mão esquerda e um largo sorriso no rosto, o mineiro Cássio Dias, 22 anos, ergueu o troféu de campeão mundial da Professional Bull Riders (PBR) em Arlington, no Texas, no domingo (19/5). Foi o 14º título mundial do Brasil e o fim da disputa com o adolescente brasileiro-americano John Crimber, 18 anos, que ameaçou a liderança de Cássio nas etapas regulares e nas finais da divisão de elite da PBR, a Unleash The Beast (Segure a Besta).
Crimber, nascido em Decatur (Texas), filho do peão brasileiro aposentado Paulo Crimber, mostrou muito talento e coragem, dominou 3 dos 4 touros na final e conquistou a melhor nota da temporada, 95, mas não conseguiu segurar o “Iron Man” (Homem de Ferro) Cássio, que uma semana antes tinha sido internado com costelas fraturadas após cair, desmaiar e ser pisoteado pelo touro Norse God nas eliminatórias das finais.
De quebra, Cássio garantiu também o título de “rookie of the year” (novato do ano), se tornando apenas o segundo peão da história a conquistar a dupla premiação na mesma temporada. Pelo título mundial, levou um prêmio de US$ 1 milhão, somando US$ 1.555.797,33 no Mundial 2024.
“É Deus. É Deus. É Deus! Tenho que agradecer por Ele permitir que eu montasse com as costas quebradas. Ele me prometeu que um dia seria campeão do mundo, e aqui estou”, disse Cássio, emocionado, no pódio da arena em que o Dallas Cowboys manda seus jogos pela NFL (liga de futebol americano).
O primeiro mineiro campeão mundial em touros, que montou com uma proteção especial e um adereço de Lane Frost (peão americano que morreu em 30 de julho de 1989 na arena após ser atacado pelo touro que tinha vencido segundos antes), admite que sentiu muitas dores nas montarias e que estava com medo de pular do touro nas duas primeiras rodadas da final, no sábado.
Segundo o campeão, os médicos tinham advertido que ele iria sentir muitas dores nas costas com os trancos dos touros. Foram essas dores que o fizeram soltar a corda nas duas primeiras montarias antes dos oito segundos. No domingo, ele decidiu ignorar as dores para buscar o título mundial.
Como foi a disputa
As finais foram decididas em duas montarias no sábado e mais duas no domingo. Nas etapas regulares Cássio tinha acumulado uma vantagem de 560,5 pontos sobre Crimber, o vice-líder. Nas eliminatórias, o adolescente ganhou 73 pontos a mais no ranking, aproveitando a ausência do mineiro lesionado na última rodada.
No sábado, com uma montaria de 88 pontos, o adolescente reduziu a diferença de 487,5 pontos para 447,5, pressionando o líder, que caiu dos dois touros que montou. No domingo, a disputa da terceira e quarta rodadas foi dramática.
Crimber enfrentou primeiro Big Bank, resistiu os 8 segundos, mas a corrida foi para revisão por suspeita de toque irregular do peão no touro antes do tempo regulamentar. Na decisão, os juízes consideraram a prova válida e atribuíram ao jovem a maior nota da temporada: 95 pontos de 100 possíveis.
Cássio foi rápido em responder: dominou o touro Ricky Vaughn marcando 92,5 pontos. O par de corridas de 90 pontos levou Crimber e Cássio a terminar a rodada em primeiro e segundo lugar, respectivamente. Se vencesse a quarta rodada com outra nota acima de 90, o adolescente seria o campeão das finais e ganharia a pontuação necessária para tirar o título de Cássio.
No sorteio da rodada 4, o mineiro escolheu montar Chiseled e Crimber selecionou o touro Hang ‘em High. Para surpresa da multidão, Crimber caiu em apenas 2,83 segundos. O título de Cássio estava confirmado, mas ele ainda montou seu último touro e fez 79,5 pontos, ganhando mais 130 pontos no ranking. O campeão terminou a temporada com 1.830,33 pontos, 238,5 pontos à frente do rival.
Veja abaixo a montaria de Cassius Dias: Vídeo reprodução da PBR Brasil
Nos 31 anos de história da PBR, Cássio é o 22º piloto diferente e o nono brasileiro a conquistar a fivela de ouro de campeão mundial da PBR. Os brasileiros que o precederam são Adriano Moraes (tricampeão em 1994, 2001 e 2006), Silvano Alves (tricampeão em 2011, 2012, 2014), Ednei Caminhas (2002), Guilherme Marchi (2008), Renato Nunes (2010), Kaique Pacheco (2018), José Vitor Leme (bicampeão em 2020 e 2021) e Rafael de Brito (2023). Dos oito, apenas Silvano, Kaique e Leme ainda são atletas da PBR.
Melhor das finais
O americano Sage Steele Kimzey foi o grande vencedor da etapa final da PBR em sua segunda participação no evento. Sete vezes campeão de outra liga de rodeio americano, a PRCA (Professional Rodeo Cowboys Association), Kimzey encerrou as quatro rodadas agregadas subindo para o 7º lugar no ranking mundial.
“Cara, isso é especial. Este ano tem sido difícil. Para entrar e encerrar na frente de uma grande multidão, não há como melhorar. Tiro o chapéu para Cássio Dias. Ele voltar da lesão e montar me inspirou a ganhar esse título”, disse o americano à assessoria da PBR.
Kimzey foi o único peão a obter sucesso em 3 das 4 montarias das finais, com notas 89, 91 e 89,5. O desempenho lhe rendeu US$ 411.200 e 537 pontos no ranking.
Entre os touros, o campeão foi Man Hater (Odiador de Homens), que obteve 47,25 pontos (máximo é 50) na terceira rodada ao derrubar o brasileiro Eduardo Aparecido em 2,53 segundos. O dono do animal ganhou um bônus de US$ 100.000 pelo título.
Man Hater foi seguido de perto por Red Demon (Demônio Vermelho), com uma vantagem de apenas 1,02 pontos. Red ganhou um bônus de US$ 25.000 como o atleta animal que obteve a melhor pontuação combinada ao derrubar Crimber e os americanos Dawson Branton e Dalton Kasel nas finais. Dos três peões apenas, apenas Crimber resistiu mais de 2 segundos (caiu aos 5,07 segundos) no lombo do animal.
Recorde animal
Um touro que fez história na temporada foi Cool Whip, que quebrou a sequência recorde de 42 rebotes do tricampeão mundial Bull Bushwacker. No domingo, na terceira rodada das finais, Cool Wipp derrubou o 43º peão consecutivo em 1,18 segundos de trabalho no confronto com o brasileiro Claudio Montana Jr.
Classificação final do ranking mundial
Peão – País – Pontuação – Premiação (US$)
- Cássio Dias – Brasil – 1.830,33 – 1.555.707
- John Crimber* – EUA/Brasil – 1.591,83 – 595.165
- Eduardo Aparecido – Brasil – 1.060,00 – 332.409
- Dalton Kasel – EUA – 995,00 – 233.129
- Alan de Souza – Brasil – 952,50 – 223.616
- Kaiden Loud – EUA – 897,00 – 358.742
- Sage Kimzey – EUA – 8506,00 – 466.983
- Brad Fielder – Austrália – 851,16 – 277.086
- Kaique Pacheco – Brasil – 708,33 – 178.639
- Koltin Hevalow – EUA – 625,5 – 142.768
- Thiago Salgado – Brasil – 599,00 – 184.661
- Austin Richardson – EUA – 533,50 – 188.437
- João Ricardo Vieira – Brasil – 504,00 – 108.401
- Caden Bunch – EUA – 476,83 – 130.264
- Daylon Swearingen – EUA – 461,00 – 91.274
- Cort McFadden – EUA – 429,50 – 114.135
- Leonardo Castro – Brasil – 422,50 – 143.407
- Julio Cesar Marques – Brasil – 411,32 – 52.893
- Cody Jesus – EUA – 338,50 – 62.003
- Alex Cerqueira – Brasil – 337,50 – 49.025
- Keyshawn Whitehorse – EUA – 328,66 – 46.760
- Silvano Alves – Brasil – 288,50 – 49.275
- Wingson H. da Silva – Brasil – 283,00 – 63.151
- Vitor Losnake – Brasil – 272,50 – 35.248
- Felipe Furlan – Brasil – 256,00 – 39.389
*John Crimber possui dupla cidadania.