A crise climática, principalmente com a redução do volume de chuva, já afetou a soja em Mato Grosso do Sul e, agora, pode comprometer os resultados da safra do milho, com prejuízo aos produtores rurais.
“Algumas regiões, principalmente a região Sul, tem sofrido com a seca extrema e muito calor. A crise hídrica afetou grande parte da produção do Estado. Tivemos uma das menores colheita de soja da história, mesmo com aumento de área plantada. E agora está acontecendo com o milho”, afirma o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que é produtor rural, com lavouras de milho, soja e pecuária.
Azambuja destaca que a situação climática perdura há três anos em MS, o que leva à inadimplência. “É preciso voltar a discutir a securitização dessas dívidas, alongamento. Como aconteceu em 1990. Naquela época, o governo do FHC [Fernando Henrique Cardoso] fez dois programas que revolucionaram a agricultura brasileira. Não adianta prorrogar a dívida de um ano para o outro, o produtor não dá conta de pagar”, afirma o ex-governador.
Nos anos 90, a medidas da União foram tomadas diante de seca extrema, juros altos e inflação alta.

A Aprosoja (Associação de Produtores de Soja e Milho) destacou que as chuvas tendem a ficar abaixo da média histórica entre os meses de abril e junho em Mato Grosso do Sul. Além da estiagem, a expectativa é de temperaturas ainda mais elevadas, o que pode potencializar os efeitos da seca.
“Nessa época, a maior parte do milho está em período reprodutivo, o que demanda grande quantidade de água”, afirma o engenheiro agrônomo Flávio Augusto Faedo Aguena, que integra a equipe da Aprosoja que faz monitoramento semanal da safra. De acordo com ele, ainda é cedo para determinar qual a ordem de queda de produtividade.
Contudo, se confirmada a pouca chuva, o resultado é baixo desenvolvimento das espigas. O tipo de solo também impacta na retenção da umidade. “O solo arenoso tende a sofrer mais. Retém pouca umidade e tende a perder mais água por evaporação”, diz Flávio.
Já o solo argiloso se sai melhor para “segurar” a umidade. Diante da chuva abaixo do esperado e o fato de o milho exigir bastante água, o engenheiro agrônomo afirma que os produtores têm buscado outras culturas, como o sorgo (usado para etanol e ração) e amendoim.
Outra opção, mas que exige alto investimento financeiro, é a irrigação. A colheita do milho vai de maio a setembro. A área cultivada com milho deve chegar a 2,1 milhões de hectares no Estado. A produtividade média esperada é de 80,8 sacas por hectare.
Estresse hídrico – Conforme boletim divulgado na última semana pela Aprosoja, a colheita da soja em Mato Grosso do Sul atingiu 86,6% da área monitorada até 21 de março. Foram colhidos aproximadamente 3,8 milhões de hectares.
A avaliação semanal aponta que cerca de 2,2 milhões de hectares estão sob estresse hídrico, o que representa 51% da área cultivada. O levantamento indica que mais de 40 municípios apresentam produtividade abaixo da média, sendo Glória de Dourados e Douradina os mais afetados.

Abaixo da média – Conforme o Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul), abril de 2024 teve volume pluviométrico atípico.
“No mês de abril de 2024, observou-se chuvas acima da média histórica com chuvas entre 90 e 180 mm [milímetros], principalmente nas regiões Central, Sudoeste, Norte e Nordeste do Estado. Por outro lado, municípios das regiões pantaneira, Sudeste e Leste do estado as chuvas ficaram abaixo da média histórica, com acumulados de chuvas entre 30 e 90 mm”.
Neste ano, conforme o prognóstico de Outono, divulgado pelo Cemtec, a tendência climática indica probabilidade de as chuvas ficarem abaixo da média histórica em MS, durante os meses de abril, maio e junho.
Mercado – De acordo com Aldo Barrigosse, administrador e especialista em comércio internacional, os riscos climáticos representam um fator de incerteza para a colheita do milho, com previsões de chuvas abaixo da média e temperaturas elevadas que podem prejudicar o desenvolvimento da cultura.
“Um ponto crucial a ser destacado é a redução significativa da área destinada ao milho na segunda safra. Atualmente, o milho ocupa apenas 47% da área de soja. Essa diminuição indica uma clara tendência de diversificação das culturas na segunda safra, impulsionada pelo alto custo de produção e pelas condições climáticas adversas, que aumentam os riscos associados ao cultivo do milho”, afirma o especialista.
Contudo, o preço do milho segue competitivo. “É importante observar que o preço do milho continua firme, sendo comercializado acima dos patamares praticados anteriormente”.
O mercado para a soja também segue positivo. “Os preços continuam firmes. Exportação de soja no primeiro trimestre deverá ser maior, impulsionada pela demanda externa, principalmente da China”, afirma Barrigosse.