A 27ª Promotoria de Justiça Criminal de Cuiabá denunciou, nesta quarta-feira (26), Nataly Helen Martins Pereira por oito crimes. Ela é acusada de assassinar a adolescente Emilly Beatriz Azevedo Sena, de 16 anos, que foi morta aos nove meses de gestação e teve o bebê roubado no último dia 12.
Nataly foi denunciada pelos seguintes crimes:
- feminicídio
- tentativa de aborto
- subtração de recém-nascido
- parto suposto
- ocultação de cadáver
- fraude processual
- falsificação de documento particular
- uso de documento falso
De acordo com o promotor de Justiça Rinaldo Segundo, o crime praticado configura feminicídio, pois “Nataly tratou Emilly como um mero objeto reprodutor, um ‘recipiente’ para o bebê que desejava, demonstrando total desprezo pela sua integridade corporal e autodeterminação. A conduta de Nataly revela a coisificação do corpo feminino, reduzindo-o à sua função reprodutiva, como evidenciado pelo fato de ter mantido contato com a vítima por meses apenas com o intuito de monitorar o desenvolvimento da sua gestação e, no momento oportuno, apropriar-se violentamente do fruto de seu ventre”.
Nessa segunda-feira (24), a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou Nataly por homicídio quadruplamente qualificado e ocultação de cadáver.
De acordo com a Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Nataly asfixiou Emilly e praticou o crime por motivo torpe e cruel, com recurso que impossibilitou a defesa da vítima e com o intuito de roubar o recém-nascido da adolescente. Além dos crimes cometidos contra a vida da jovem, Nataly também deverá responder por registrar como próprio um parto alheio e uso de documento falso.
A recém-nascida teve alta médica do Hospital Beneficente Santa Helena, em Cuiabá, no sábado (15), após passar por exames. Ela está na casa da família da mãe, aos cuidados da avó materna e do pai.
De acordo com as investigações, a suspeita simulou uma gravidez por meses, apresentando exames falsos e fotos adulteradas para enganar os familiares. A vítima foi atraída com a promessa de receber doações de roupas e levada para uma casa no bairro Jardim Florianópolis, em Cuiabá, onde foi morta.
Laudos periciais confirmam que a adolescente sofreu asfixia e teve o abdômen aberto ainda com vida, resultando em choque hipovolêmico hemorrágico. Além disso, o corpo apresentava diversas lesões, incluindo marcas de socos no rosto e sinais de contenção nos punhos e tornozelos, amarrados com cabos de internet. O corpo foi enterrado em uma cova rasa, com parte da perna visível.
O delegado Michael Mendes Paes informou que um inquérito policial complementar foi instaurado para apurar a possível participação do marido, do irmão e de um amigo da autora no crime. No dia da descoberta, os três foram conduzidos à delegacia, ouvidos e liberados por falta de elementos que justificassem uma prisão em flagrante.
Segundo Mendes, as investigações seguem em andamento para esclarecer se eles teriam auxiliado a autora em algum momento.
Durante o interrogatório, Nataly confessou o crime e afirmou ter agido sozinha, com o objetivo de ficar com o bebê da vítima.
Entenda o caso
Ao g1, a mãe de Emilly, Ana Paula Meridiane, informou que a mulher com quem a filha conversava pelas redes sociais afirmava ser mãe de dois meninos e que estaria à espera de uma terceira filha e, por isso, tinha roupas de bebê para doar.
Durante as mensagens trocadas, a suspeita disse ter roupas de bebê e um protetor de berço para doar, enviando a localização para que Emilly fosse buscá-los. No entanto, após sair de casa, a jovem desapareceu e não foi mais vista.
“Ela falou que ganhou muita roupa e queria doar um pouco para Emilly. Então, mandou a localização e até um Pix para que minha filha pudesse ir até lá buscar as roupas. Só que ela foi e não voltou”, relatou a mãe.
Prisão de casal
Nesta quinta-feira (13), o casal procurou o Hospital Santa Helena, em Cuiabá, para registrar um bebê recém-nascido, com a alegação de que a criança tinha nascido em casa.
A equipe médica estranhou o comportamento da mulher, que afirmava ter dado à luz recentemente. Diante da suspeita, os profissionais acionaram a polícia, que deteve o casal e os encaminhou à delegacia. Exames mais detalhados serão realizados para determinar se a mulher estava, de fato, grávida.
A mãe da jovem desaparecida foi até o hospital, onde a criança permaneceu após a equipe médica da unidade chamar a polícia.