Tratada inicialmente como suicídio, a morte da mulher que confessou ter assassinado as duas filhas em Edéia (GO), tomou outro rumo após a investigação, que encontrou imagens de câmeras de segurança e transferência por PIX. O delegado Marcus Vinícius Cardoso concluiu que João de Lima Pereira, de 30 anos, namorado de Izadora Alves de Faria, a matou em Goiânia. Ele se tornou réu após a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público de Goiás (MP-GO).
“A gente desconfiou porque a última pessoa que ela viu com vida foi ele, teve uma transferência bancária também para a conta dele e bem próxima da morte dela e quando fiz o interrogatório, ele confessou”, explicou o delegado.
A confissão ocorreu durante o primeiro depoimento de João, mas no segundo interrogatório ele mudou a versão e negou os fatos, segundo o delegado. De acordo com a denúncia do MP-GO, João estrangulou Izadora com uma corda e a jogou no Rio Meia-Ponte em 3 de novembro de 2023. O corpo da mulher foi encontrado às margens do rio, com a corda amarrada ao pescoço, quatro dias depois.
João se tornou réu após o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) aceitar a denúncia em 11 de julho deste ano. Devido ao estado do corpo, não foi possível determinar com exatidão a causa da morte, mas a polícia descartou a hipótese de suicídio e indiciou João em junho deste ano.
“Pelo local onde o corpo foi encontrado, estando distante de qualquer anteparo que pudesse sustentar a corda para um suicídio por enforcamento e pela posição que estava, provavelmente não foi uma morte por enforcamento proveniente de suicídio, mesmo sendo o laudo de caráter inconclusivo”, escreveu o delegado Marcus Vinicius Cardoso no inquérito policial.
Entenda mais sobre como a polícia descartou a hipótese de suicídio:
Transferência PIX
Informações do inquérito, remetido ao Poder Judiciário em junho deste ano, apontam que no dia da morte, Izadora transferiu R$ 1 mil para a conta de João. Nos depoimentos, ele afirmou que a mulher fez isso por vontade própria.
Depoimentos contraditórios
Em um depoimento ao delegado Marcus Vinicius, em 23 de fevereiro deste ano, João afirmou que tinha um relacionamento com Izadora e que, no dia do crime, estava bêbado e discutiu com ela. Ele alegou ter empurrado a mulher acidentalmente durante uma discussão enquanto estavam na ponte.
No dia 21 de março de 2024, ao mesmo delegado, João apresentou um laudo de “retardo mental leve”, prestou um novo depoimento e mudou a versão do interrogatório anterior. Ele negou ter tido um relacionamento amoroso com Izadora, negou estar com ela no momento em que ela pulou ou foi jogada da ponte, e negou tê-la empurrado.
A Justiça determinou a prisão de João no dia 11 deste mês. Ele não está preso. Por não ter um advogado, foi nomeado um defensor público para atuar na defesa do réu. O g1 pediu informações à Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO), mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Detalhes do crime
De acordo com a denúncia do MP-GO, no dia da morte, por volta das 17h40, Izadora Alves de Faria comprou uma corda em um estabelecimento. À noite, ela e João foram filmados por câmeras de segurança caminhando perto do local do crime.
Segundo a denúncia, às 21h20 Izadora fez, sem justificativa aparente, uma transferência via PIX de R$ 1 mil para João. Depois, eles discutiram e o homem, usando a corda comprada à tarde, a estrangulou e em seguida a empurrou da ponte, conforme informações do documento.
O MP-GO menciona o possível estrangulamento, pois a corda foi encontrada ao redor do pescoço da vítima. O corpo dela foi encontrado por um funcionário de um clube.
O corpo de Izadora estava em estado avançado de decomposição. O MP-GO ressaltou que a motivação do crime é incerta e será esclarecida ao longo do processo.
Pedido de absolvição
O MP-GO pediu a absolvição de Izadora Alves cerca de dois meses antes de sua morte. O pedido considerou o exame de insanidade mental feito pela Justiça, que concluiu que a mulher tinha transtorno psicótico e não era capaz de entender que seus atos eram errados durante o crime.
“A promotora responsável pela manifestação esclarece que o pedido está de acordo com as normas técnicas e jurídicas, respeitando os devidos processos penal e constitucional”, afirmou o MP-GO à reportagem na época.
Além da absolvição, também foi solicitado que Izadora fosse incluída no Programa de Atenção ao Louco Infrator.
Crime contra as filhas
O crime aconteceu em setembro do ano passado. De acordo com o delegado Daniel Gustavo, Izadora fugiu de casa após matar as filhas, Maria Alice, de 6 anos, e Lavínia, de 10. A polícia foi acionada após o pai chegar ao local e encontrar as crianças mortas.
À Polícia Civil, o pai relatou que encontrou as meninas mortas em um colchão na garagem de casa, no Setor Samambaia. O crime chocou os moradores de Edéia e os policiais envolvidos no caso.
Mãe confessou crime
A mulher foi encontrada horas após o crime, com a ajuda de cães farejadores, em um matagal próximo à casa. Ela apresentava sinais de tentativa de suicídio e, por isso, foi internada.
Izadora confessou aos policiais militares que matou as duas filhas. Segundo o delegado Daniel, a mulher afirmou que envenenou, afogou e depois esfaqueou as filhas.
“No local do crime, havia elementos que sugeriam essa sequência de atos. Encontraram um frasco de veneno para rato aberto e outro fechado, uma caixa d’água cheia com uma extensão [elétrica] ligada dentro, como se pretendesse eletrocutar,” descreveu o delegado.
O delegado informou que, em depoimento, Izadora forneceu detalhes de como cometeu o crime e em nenhum momento chorou ou demonstrou arrependimento.
“Na mente dela, ela acreditava que tinha feito algo bom para as crianças. Ela achava que as livrou de viver uma vida como a que ela viveu,” disse o delegado.
O pai das meninas contou aos policiais militares que na noite anterior ao crime, ele e Izadora discutiram e ela ameaçou tirar a própria vida e matar as filhas.
“O pai mencionou que o relacionamento dos dois estava conturbado e que ela precisava de tratamento psiquiátrico porque não estava bem,” relatou o delegado.