Asfixiado: que se asfixiou; abafado, sufocado. Esse seria o destino de 200 peixes que tentavam sobreviver buscando oxigênio na superfície da água do Rio da Prata, se não chegassem a tempo as equipes da Operação Dourado. A morte viria em um trecho de 6,9 quilômetros que está secando, mas a realocação dos peixes, algo inédito, envolveu mais de 30 pessoas e foi um sucesso, porque nenhuma vida foi perdida, entre ontem e esta quarta-feira (31), em Jardim, a 235 quilômetros de Campo Grande
O trabalho emocionou o ambientalista e proprietário do Recanto Ecológico Rio da Prata, uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), na Fazenda Cabeceira do Prata, Eduardo Coelho.
O nome Operação Dourado foi escolhido porque entre os peixes havia reprodutores da espécie, além de alguns bem jovens. O dourado já é ameaçado de extinção com pesca proibida em Mato Grosso do Sul.
Peixe é removido do rio para ser levado a outro trecho. (Foto: Marcos Maluf)
Também foram socorridos peixes cascudo, curimbatá, piraputanga, piau e piapara. Eles estavam em um poço de água que restou esvaído de oxigênio.
“Fiquei emocionado de ver a soltura dos peixes, porque é uma operação difícil. Eles usam uma caixa d’água que eles, provavelmente, estão carregando em quatro, cinco homens, porque é pesado e eles têm que andar cem metros na mata para chegar com a caixa d’água em cima do carro, aí anda quinze, vinte quilômetros, aí no lugar que eles estão soltando a caminhonete já chega na beira do rio, chega a quinze metros do rio, que é um ponto turístico nosso. Eles começaram cedo e terminaram de noite e hoje começaram de novo. Eles levaram bomba, eles estão bombeando a água para tirar fora, porque os peixes ficaram muito ariscos e aí tem os peixes que enlocam”, comenta Eduardo.
Retirados cuidadosamente, os peixes foram colocados em uma caixa de 500 litros com água e oxigênio e depois transportados para outra de 2 mil litros em um caminhão. Foram várias idas e vindas para levar os animais a um outro trecho, a 5 quilômetros dali por terra, que equivalem a 11 km por rio.
A operação envolveu voluntários do IHP, Amigos do Rio da Prata, PMA (Polícia Militar Ambiental), Iasb (Instituto das Águas da Serra da Bodoquena), Instituto Guarda Mirim Ambiental, 1ª Promotoria de Justiça de Jardim e integrantes do curso de Geografia da Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).
Trecho que está secando no Rio da Prata. (Foto: Marcos Maluf)
O biólogo do IHP (Instituto Homem Pantaneiro) Sérgio Barreto explicou que a operação foi um sucesso absoluto. “Os peixes já estavam tentando respirar na superfície por falta de oxigênio. Eles iam morrer todos asfixiados. Essa operação foi importante, porque hoje no Estado já temos um problema com diminuição dos recursos ictiológicos e essas grandes matrizes de dourado são consideradas prioritárias e merecem esse olhar para cuidado”, comentou Sérgio.
Quem percebeu que os peixes estavam próximos da morte foi o capataz da fazenda, Edenilson de Souza Rodrigues. O rio começou a secar no final de junho e deu tristeza saber que todos iriam morrer.
“Foi legal o que aconteceu porque hoje mesmo vi um monte de dourado, ameaçado de extinção, sendo retirado. Isso ia causar uma falta muito grande para as espécies”, disse Edenilson, que deu apoio à operação.
Subtenente da PMA (Polícia Militar Ambiental) em Jardim, Eri Esmael Ogeda está a há 26 anos e nunca tinha visto uma seca como essa. “Salvar vidas de seres vivos é um trabalho que deixa a gente feliz. É triste a situação, mas estou feliz por contribuir. A PMA está preocupada em fazer esse trabalho”, disse Eri. –
Caroline Maldonado, Ângela Kempfer e Gabriela Couto, de Jardim -: CAMPO GRANDE NEWS