Funcionários da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul ajudaram nas buscas na sede da entidade na manhã desta terça-feira (21), durante o cumprimento de mandados pela Operação Cartão Vermelho, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado).
Rudson Bogarim Barbosa, chegou ao local escoltado, por volta das 11h40 e deixou a FFMS, pouco depois das 12h50, também acompanhado por agentes Identificado como gerente de Tecnologia da Informação da FFMS, em publicação no site da entidade de 2022, o homem é um dos presos pela operação, que nesta manhã levou Francisco Cezário de Oliveira, 77 anos, lendária figura do futebol sul-mato-grossense, para a cadeia.
Ao deixar a sede da FFMS, Rudson disse para a mulher: “chama do André Borges”, referindo-se ao advogado que representa a federação. Cópia do mandado de prisão contra Rudson foi deixado com a esposa, que estava na calçada da entidade, na Rua 26 de Agosto, no Bairro Amambaí.
Umberto Alves Pereira, conhecido como Betão, o responsável pelas finanças da federação, também está preso. Foi ele quem abriu o portão da FFMS para a entrada de agentes do Gaeco e depois das buscas, deixou o local escoltado, às 13h28.
Durante o trabalho na sede da federação, pelo menos mais um funcionário colaborou com o Gaeco, mas este deixou o local a pé e não quis conversar com a reportagem. Um técnico foi enviado ao local para extrair dados de um computador.
Por lá, após cerca de 1 hora e meia de buscas, equipe deixou o local com vários malotes abarrotado de documentos.
Umberto Alves Pereira, conhecido como Betão, chegou escoltado e abriu sede da FFMS para buscas (Fotos: Marcos Maluf)
Umberto Alves Pereira, conhecido como Betão, chegou escoltado e abriu sede da FFMS para buscas (Fotos: Marcos Maluf)
Entenda – A Operação Cartão Vermelho apura esquema que desviou R$ 6 milhões da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, entidade que recebe dinheiro público e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para custear o esporte no Estado.
A casa do presidente da FFMS – imóvel de alto padrão, localizado na Vila Taveirópolis, na Capital – também foi vasculhada. No local, agentes apreenderam mais de R$ 800 mil em espécie.
Contra Cezário também havia mandado de prisão preventiva. Como ele é advogado com registro ativo, o trabalho foi acompanhado por representantes da Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas dos Advogados de Seccionais da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
André Borges, advogado de Cezário, afirmou que a quantia encontrada na casa tem origem lícita. “Não é crime manter dinheiro em casa. Tem origem lícita, que no momento oportuno será declarada”.
Francisco Cezário é conhecido pela longevidade no comando da federação, sendo há quase 26 anos o “dono da bola” no futebol de MS. Ele está no sétimo mandato e fica no cargo até 2027. A última eleição aconteceu em 2022. Marcada por briga na Justiça, o desfecho foi vitória da chapa única, liderada por Cezário. O presidente só se afastou do cargo por oito anos, quando foi prefeito de Rio Negro.
Buscas na sede da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul duraram cerca de uma hora e meia (Foto: Marcos Maluf)
Buscas na sede da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul duraram cerca de uma hora e meia (Foto: Marcos Maluf)
Esquema – Segundo o Ministério Público, foi constatada uma organização criminosa dentro da FFMS, “cujo principal objetivo era desviar valores, sejam provenientes do Estado de Mato Grosso do Sul (via convênio, subvenção ou termo de fomento) ou mesmo da Confederação Brasileira de Futebol, em benefício próprio e de terceiros”.
Uma das formas de desvio era a realização de frequentes saques em espécie de contas bancárias da Federação, em valores não superiores a R$ 5 mil, para não alertarem os órgãos de controle, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema. A investigação constatou mais de 1,2 mil saques, que ultrapassaram o montante de R$ 3 milhões.
Também havia um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Governo do Estado em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. Ao todo, os valores desviados, no período de setembro de 2018 até fevereiro de 2023, superaram a casa dos R$ 6 milhões. Nos últimos 15 anos, a Federação de MS recebeu R$ 11,5 milhões de verba pública, somente através de convênio com a Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul).
Diante dos indícios de desvios milionários, agentes do Gaeco saíram às ruas hoje para cumprir 7 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão, em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. A lista de investigados inclui dirigentes da FFMS, hotéis e até barbearias do interior do Estado –