Uma simples pescaria para conseguir o jantar se tornou única. O produtor rural Sebastião Pinheiro, de 55 anos, pescou um peixe raro em Nazário, no oeste de Goiás. Uma traíra dourada. Não é história de pescador, como sugere o ditado popular. Vídeos mostram o animal (assista aqui).
“Era uma pescaria normal, como sempre faço. Só que veio um peixe diferente. Surpreendi porque era uma cor diferente, nunca tinha visto”, revelou Sebastião, ao g1.
A pescaria aconteceu na última segunda-feira (29), na represa da Fazenda Bom Sucesso, onde a família trabalha. Gilmara Junqueira, doutora em reprodução e produção de peixes, explicou que a traíra dourada é um animal leucístico. Se trata de uma condição genética, comparada ao albinismo (entenda mais abaixo).
“Peixes leucísticos são esses que nascem sem cor. Eles apresentam essa condição um pouco mais dourada, mais esbranquiçada ou amarelada. É muito raro, eu nunca tinha visto em traíra, já vi em outras espécies”, explicou Gilmara.
Veja como é uma traíra comum:
O que aconteceu com a traíra?
Após pegar a traíra dourada, Sebastião continuou pescando. Ao voltar para casa, a esposa dele, que foi chamada para acompanhá-lo, mas recusou, também se surpreendeu com o peixe.
“A gente ficou encantado. Ele chegou em casa com ela, perguntando se eu já tinha visto, mas eu nunca vi um peixe igual. Ele fez vídeo, mandou para os colegas todo empolgado com o peixe. Realmente maravilhosa, muito linda”, contou Rilda Maria.
Para manter o peixe vivo, a família o colocou em uma espécie de piscina para patos, até pensar em um destino. Apesar do esforço, a traíra morreu no dia seguinte. Os planos do pescador e da esposa não puderam ser concluídos.
“Nem sabíamos o que íamos fazer. A tendência é comer, a gente vai pescar para comer. Mas essa era rara e depois que ficamos sabendo disso, a tendência era vender, só que ela não morreu antes”, detalhou Sebastião.
“Ela é perfeita, maravilhosa. É um peixe muito raro, muito lindo. Uma pena que ela não sobreviveu. Ela está na geladeira, estamos esperando ter coragem de comê-la, porque é linda demais”, completou Rilda.
Condição rara
A pesquisadora Gilmara Junqueira, que se apresenta como “doutora dos peixes” explicou que, no mercado da pesca esportiva, os peixes leucísticos são caros. Ao g1, a doutora exemplificou que existem pirararas, pintados e tambaquis leucísticos.
“Hoje, a gente tem uma linhagem na Embrapa que é só de animais leucísticos, exatamente para atingir esse mercado de pesca esportiva, porque é um troféu. Nos comentários do vídeo da traíra, eu vi o pessoal oferecendo R$ 50 mil, R$ 100 mil… E o pessoal paga mesmo, porque é uma raridade”, detalhou Gilmara.
Gilmara não precisou a proporção do nascimento desse tipo de animal, mas acredita que pode ser de “1 em 1 milhão”. No pesqueiro em que ela atua, há um desses animais (veja foto abaixo).
“Se você fizer cruzamentos e começar a reproduzir esse peixe, é muito provável que você consiga mais animais com essa condição. O interessante é ter esse animal num plantel reprodutivo, para tirar animais, animais semelhantes”, finalizou.